Quem foi Higino Tuyuka

Higino Pimentel Tenório

Poani, seu nome de “benzimento de alma”, foi uma grande liderança do povo Tuyuka da região do Alto Rio Negro, no Amazonas. Mestre de cerimônias bayá, professor obstinado na defesa das línguas e da educação indígena, sábio benzedor, doutor do saber — em especial dos petróglifos —, era também um exímio observador das formigas e das estrelas. 

Higino nasceu em 1955 na aldeia de São Pedro, e dedicou sua existência à preservação da cultura de seu povo: sua língua, história, cantos, cerimônias e o território sagrado. Ele se comprometeu intensamente com a defesa e valorização desses aspectos fundamentais, visando proteger e transmitir o legado cultural de sua comunidade às gerações futuras. A carta coletiva assinada por ele e outras lideranças (como Álvaro Tukano) em 1986 enfatiza a luta pela demarcação do território para garantir a liberdade, autodeterminação e proteção das tradições e cultura dos povos da comunidade de Pari-Cachoeira.

Este grande líder foi o idealizador da Escola Utapinona-Tuyuka na década de 1990, situada no alto Tiquié, na região fronteiriça entre Colômbia e Amazonas. Ao lado do seu povo, Poani desenvolveu de modo primoroso e original a concretização dos direitos constitucionais indígenas da educação escolar específica. Em um contexto onde a herança missionária dos salesianos prevalecia desde o início do século XX, os Tuyuka sob sua liderança criaram uma escola pensada coletivamente, que se integrou plenamente à vida comunitária, ultrapassando as barreiras da instituição escolar dos não-indígenas. A escola multilíngue revolucionária adotou o Tuyuka para alfabetização, com o português como segunda língua e o espanhol como terceira, e promoveu um ensino baseado em pesquisas, enaltecendo os saberes indígenas e fomentando o diálogo com conhecimentos científicos, resultando em experiências contínuas de produção, circulação e registro de conhecimentos na língua Tuyuka. Essa escola tão corajosa não se limitou ao ensino fundamental, mas também implementou o ensino médio indígena, enfrentando a falta de apoio governamental. Ao longo do tempo, ela moldou e nutriu diversas gerações de crianças e jovens do povo, que desenvolveram autonomia e orgulho em relação à sua identidade e modo de vida Tuyuka.

Além disso, o trabalho de Higino Tenório com artes rupestres foi revolucionário e de grande importância para os estudos arqueológicos no Brasil. Ele desafiou o pensamento dominante ocidental, promovendo a decolonização desses estudos na América do Sul. Suas pesquisas interculturais na bacia do Rio Negro revelaram a essência das representações nas pedras, destacando a conexão entre seres vivos e o ambiente. Sua abordagem inovadora foi reconhecida ao ser nomeado o primeiro pesquisador indígena de arte rupestre no país e receber o título de sócio honorário da Associação Brasileira de Arte Rupestre (ABAR) em 2018.

Mestre Paoni se encantou aos 65 anos em 18 de junho de 2020, vítima de covid-19. O legado e memória desta liderança que utilizava canoas e falava de formigas para agenciar conhecimentos permanece intacto, seu saber metamorfoseando o seu próprio apelido “Wiwisero”, como relembrou Pieter van de Veld: “Wiwisero é o nome de um passarinho. Agora, o canto desse passarinho calou, mas as mudas que ele plantou continuará a dar muitos frutos”.

Para saber mais sobre Higino Tuyuka, acesse:

https://memoraveis.foirn.org.br/higino-tuyuka/

https://inumeraveis.com.br/poani-higino-pimentel-tenorio/

https://ds.saudeindigena.icict.fiocruz.br/handle/bvs/3350

https://www.memorialvagalumes.com.br/paoni-higino-tenorio-65/

https://foirn.wordpress.com/2020/06/22/educacao-escolar-tuyuka-legado-do-poani-higino-pimentel-tenorio/

https://www.amazonialatitude.com/2020/07/08/higino-tenorio-pedagogia-tuyuka-espancando-a-dor/

https://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=4166

https://nepi.ufsc.br/2021/06/18/higino-sabedoria-generosidade-e-desafio/