“Ser mulher indígena no Brasil é você viver um eterno desafio, de fazer a luta, de ocupar os espaços, de protagonizar a própria história. Historicamente foi dito para nós que a gente não poderia ocupar determinados espaços.”
Essas são palavras ditas em entrevista ao portal O Brasil de fato, pela indígena nascida no seio do povo Guajajara, população inígena que vive na terra Araribóia situada no estado do Maranhão, no dia 06 de março de 1974.
Sônia Bone de Souza Silva Santos, conhecida no cenário político e de ativismo indígena e ambiental brasilero como Sônia Guajajara, desde cedo entende a necessidade de se colocar em luta pelos direitos dos povos indígenas.
Essa militância, que pode ser considerada embrionária na vida de Sônia, vem da ânsia de trazer à luz a história e cultura indígena, além de buscar a garantia e preservação dos direitos de seu povo.
Aos 15 anos ela recebeu auxílio da FUNAI (Fundação Nacional do Índio) e foi estudar em Minas Gerais, onde concluiu o ensino médio.
Guajajara traçou carreira acadêmica nas áreas de letras e enfermagem. E tendo isto em vista, é possível afirmar que, sem sombra de dúvidas, a sua caminhada na formação acadêmica é de elementar relevância em seus itinerários de vida.
Fora do chão da academia, hospital ou sala de aula, Sônia desempenhou e desempenha um intensivo e efetivo trabalho dentro da política indígena e indigenista. A exemplo, é possível citar o seu trabalho dentro de importantes organizações como a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) onde atualmente, 2021, atua como coordenadora nacional, COIAB (Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira) e COAPIMA coordenação das organizações e articulações dos povos indígenas no Maranhão.
Esse labor tornou sônia, força e voz dos povos indígenas, e além disso uma das mais conhecidas ativistas sobre a causa ambiental e contra os desdobramentos criminosos e mortais do capitalismo e das marcas coloniais.
Isso e muito mais, justificam diversos prêmios conquistados por ela. Alguns exemplos da lista são: o Prêmio Ordem do Mérito Cultural 2015 do Ministério da Cultura, entregue pela então presidenta Dilma Rousseff, a medalha 18 de Janeiro pelo Centro de Promoção da Cidadania e Defesa dos Direitos Humanos Padre Josimo, em 2015, e a Medalha Honra ao Mérito do Governo do Estado do Maranhão, pela grande articulação com os órgãos governamentais no período das queimadas na Terra Indígena Arariboia.
2017 foi um ano que entrou para história da vida de Sônia, dos povos indígenas e do Brasil, pois foi quando ela se apresentou como concorrente à vice-presidência da república federativa do Brasil, em uma chapa dividida com Guilherme Boulos.
Candidatura essa que é uma forte marca de protesto às estruturas políticas do Brasil. Isso porque pela primeira vez, em mais de 500 anos, uma pessoa indígena se colocava em tal posição e poderia chegar em uma das mais altas posições da política partidária brasileira.
Infelizmente sua vitória não se consolidou, e o resultado das eleições colocou o Brasil em um caminho que vai totalmente de encontro aos preceitos e ideais defendidos por Guajajara.
Mas o resultado adverso da eleição presidencial de 2018 não foi um limite para o avanço dos trabalhos de Sônia. Atualmente ela é coordenadora executiva da APIB, além de tocar outros projetos paralelos em favor das causas e vidas indígenas, contra a exploração indevida das terras indígenas e perpassante à causa ambientalista.
Recentemente ela foi classificada como uma das 100 pessoas mais influentes da américa latina, por um conjunto de organizações internacionais que compõem o grupo Latinos por la Tierra.
Contudo, é possível concluir que Sônia Guajajara é, sem sombra de dúvidas, um ícone a ser admirado. Essa afirmativa vem de uma análise de sua importante, potente e necessária luta, e tendo em vista que ela, por meio de sua (r)esistência, que é atravessada por diversos marcadores sociais (afinal ser mulher, nordestina e indígena nunca foi, não é e está longe de ser algo fácil no Brasil), é uma característica detentora de beleza e que funciona como combustível para lutar contra forças de opressão.
Luta essa que deve ser admirada, aplaudida e valorizada.