12 de maio de 2016.

Do Povo Madija Kulina para os Ministérios e as Prefeituras

CARTA ABERTA DO POVO MADIJA KULINA 

Ao Ministério da Saúde, 

Ao Ministério do Desenvolvimento Social, 

Ao Ministério da Educação, 

À Fundação Nacional do Índio, 

À Secretaria Especial de Saúde Indígena, 

Ao Distrito Sanitário Especial Indígena do Médio Rio Solimões e Afluentes, 

À Coordenação Regional da Funai no Alto Solimões, 

À Secretaria de Estado de Educação do Amazonas, 

À Secretaria de Estado de Assistência Social do Amazonas 

À Prefeitura Municipal de Juruá, 

À Prefeitura Municipal de Fonte Boa, 

À Prefeitura Municipal de Tefé, 

 

Prezados Senhores Gestores, 

Nós, indígenas Madija Kulina pertencentes às aldeias Pau-Pixuna, Boca do Pau-Pixuna, Beiradão, Mapiranga, Marupá, Campina, Morada Nova, Lago Preto e Djaci da Terra Indígena Kumaru do Lago Ualá, entidades não-governamentais e demais aldeias convidadas, reunidos na Aldeia Pau-Pixuna na I Assembleia do Povo Madija Kulina, realizada nos dias 11 e 12 de Maio de 2016, em função do histórico descaso de políticas públicas destinadas ao povo Madija Kulina, deliberamos por solicitar a vossas senhorias, considerando a obrigação de cumprirem com a missão institucional de seus órgãos:

 

Para melhoria da Politica de Educação Escolar Indígena: 

– Criação da Secretaria Municipal Indígena de Juruá; 

– Construção de novas escolas, em alvenaria, na TI Kumaru do Lago Ualá; 

– Curso de formação para professores Indígenas (Curso Pirayawara); 

– Distribuição regular da Merenda Escolar; 

– Organização da regionalização da merenda escolar; 

– Contratação de merendeira/o escolar; 

– Construção do Projeto Politico pedagógico das escolas indígenas Madija Kulina; 

– Elaboração de material didático na língua Madija Kulina; 

– Implantação de outras series do ensino fundamental e Médio nas aldeias; 

– Para superação da grave situação associada ao uso de álcool por nossa população: realização de momentos esportivos e culturais nas aldeias; 

– Retorno de uma base da CTL Carauari da Funai na entrada da Terra Indígena Kumaru para fiscalização; 

– Impedir a entrada de barcos de pesca pertencentes a não-indígenas na Terra Indígena; 

– Proibir a entrada de não-indígenas com bebidas alcoólicas; 

– Responsabilizar os profissionais indígenas quando houver prejuízos às atividades provocados pelo consumo de bebidas alcoólicas nas aldeias; 

– Apoiar uma reunião para pactuação de Protocolo Interno da Terra Indígena; 

– Fiscalizar e notificar os comerciantes que fazem a venda de bebidas alcoólicas nas aldeias; 

– Fortalecimento do Grupo de Mulheres Indígenas do Kumaru.

 

Para garantir o usufruto exclusivo da Terra Indígena Kumaru e seus recursos pelo Povo Madija: 

– Apoiar e instrumentalizar a população indígena para realizar a fiscalização da própria área; 

– Articulação para busca e captação de recursos para implementação e realização de projetos de Gestão Territorial e Ambiental na Terra Indígena, em especial o manejo de lagos para venda de pescado por preço justo; 

– Oferecer capacitação para as lideranças indígenas Madija Kulina sobre legislação, gestão e fiscalização; 

– Presença mais constante da Funai na área; 

– Demarcação da Terra indígena Matatibem do município de Carauari, e impedir retirada de madeira; 

– Demarcação da Terra Indígena Mineruazinho; 

– Atuação da Funai na aldeia Estação do Mineruá; 

– Realizar grande festival AJIÉ; 

– Colocar placas na Terra Indígena Kumarú; 

– Fazer limpeza dos limites da Terra Indígena; 

– Gestão compartilhada da área do Lago do Juruapuca – aldeia boca do Jaci; 

– Criar uma campanha contra a discriminação, preconceito e desvalorização da identidade cultural do Povo Madija Kulina junto com o Fórum Estadual de Educação Escolar Indígena.

 

Sobre benefícios sociais e Previdenciários: 

– Que o INSS realize ações a cada três meses na cidade de Juruá; 

– Que a Funai envie uma equipe para levantamento de demanda de benefícios sociais nas aldeias no prazo de 2 meses; 

– Notificar o MDS sobre irregularidades referentes aos benefícios sociais.

 

As instituições presentes na I Assembleia do Povo Madija Kulina se comprometem: 

O Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condisi): 

– Acompanhar as ações que forem pactuadas entre as entidades; 

– Realizar oficinas sobre direitos indígenas com as lideranças das aldeias; 

– Mapear pontos estratégicos para montar vigilância; 

– Fortalecer as parcerias já existentes, bem como articular outras.

 

A Associação das Mulheres Indígenas do Médio Solimões e Afluentes (AMIMSA): 

– Articular parcerias com instituições públicas municipais, estaduais e federais para continuar a construção da proposta de enfretamento do alcoolismo nas terras indígenas; 

– Buscar parcerias e recursos para elaboração do plano de gestão da terra indígena; 

– Acompanhamento das ações interinstitucionais que estarão sendo realizadas nas áreas; 

– Compor e fortalecer grupo de trabalho para dar continuidade às propostas da Assembleia; Fortalecer o grupo de mulheres. 

 

O Conselho Indigenista Missionário (CIMI): 

– Realizar Oficina de Formação Politica e Jurídica para lideranças indígenas no mês de agosto de 2016, em duas etapas; 

– Prestar assessoria nas ações da Associação de Professores Indígenas Kulina (APIK). 

 

A Funai: 

– Fiscalização no Lago Preto, Lago do Ualá, Igarapé Mapiranga, Igarapé Pau Pixuna e outros em junho de 2016 e datas subsequentes; 

– Realizar mapeamento e organização do fluxo de acessibilidade de benefícios sociais para os Madija Kulina entre as aldeias e as cidades; 

– Realizar articulação junto aos municípios de Juruá e Tefé para melhorar o deslocamento e atendimentos Madija Kulina; 

– Realizar capacitação sobre o Programa Bolsa Família em articulação com a Secretaria Municipal de Assistência Social de Juruá; 

– Promover capacitação de lideranças para atuação no monitoramento ambiental e territorial para construção do Plano de Gestão Territorial e Ambiental – PGTAS; 

– Apoiar o fortalecimento do grupo de mulheres; 

– Articular junto à Sesai a criação de uma representação de Juruá em Tefé com o objetivo de dar suporte aos indígenas que vão em busca de benefícios sociais.

 

A Sesai (nível central) e demais Secretarias do Ministério da Saúde: 

– Apoiar realização pela Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI) de trabalho em 

– grupo com as mulheres Madija Kulina para prevenção do uso do álcool e outras drogas pelas crianças; 

– Apoiar e orientar (matriciamento) a EMSI para a realização do trabalho coletivo de prevenção do uso prejudicial de álcool e outras drogas e para promoção da saúde; 

– Fortalecer a EMSI para realizar o acolhimento e a notificação dos casos de violência, uso de álcool e suicídios; 

– Preparar material e metodologia para que a EMSI possa realizar uma ação coletiva por mês com a população Madija Kulina. 

 

O Distrito Sanitário Especial Indígena (DASI/DSEI-MRSA): 

– Intensificar as ações de educação e saúde voltadas para a alcoolização nas aldeias do Polo Base Kumarú; 

– Criar GT sobre alcoolização e suas consequências, com o objetivo de buscar ações de enfretamento; Articular junto à Funai a criação de uma representação de Juruá em Tefé com o objetivo de dar suporte aos indígenas que vão em busca de benefícios sociais; 

– Realizar reunião semestral com a população indígena para avaliar as ações sugeridas pelo GT.

 

A Equipe Multidisciplinar de Saúde Indígena (EMSI Polo Base Kumaru/DSEI MRSA): 

– Realização e Intensificação de Palestras e Rodas de Conversas sobre Temáticas de Saúde; 

– Realizar reuniões regulares junto às lideranças das aldeias; 

– Formar parceria com a equipe de educação para realização de ações de educação em saúde em sala de aula, abordando o uso de álcool e drogas; 

– Formar parceria com os municípios do Médio Solimões e Afluentes para criação de projetos e programas realizados às alcoolização nas aldeias. Nesse sentido, manifestamos nosso acordo, que vai assinado por todos os presentes nesta reunião.

Fonte: http://cimi.org.br/pub/doc/2016-05_carta-aberta-povo-kulima.pdf