Daniel Cabixi, Omizokay, do povo Pareci (autodenominados Haliti), filho de descendentes de Kozarini, nasceu em 14/03/1953, na aldeia Zanakwa. Depois da morte do seu pai, ele foi separado de sua família aos dois anos e internado no Lar do Menor, administrado pelos jesuítas em Utiariti, Diamantino (MT). O sobrenome “Cabixi” foi conferido pelos padres e irmãs da Missão e Internato, que o utilizaram nos documentos de batismo, crisma e certidão. Essa separação impediu que ele crescesse junto da sua família na aldeia, privando-o do conhecimento profundo das tradições do seu povo. No internato, o sistema escolar impunha um impacto devastador em sua identidade, desconsiderando por completo suas culturas e saberes ancestrais. Uma das medidas mais dolorosas era a proibição do uso da língua materna, forçando-o a se comunicar exclusivamente em português. No entanto, Daniel conseguiu encontrar, na escola, alguns subsídios para entender o contexto em que cresceu e as necessidades de seu povo e dos parentes da região. O território tradicional Pareci é historicamente invadido desde o século XVIII, e sofreu transformações com a chegada de bandeirantes, linhas telegráficas, igrejas, estradas e outras intervenções.
Em 1972, Daniel concluiu a sétima série e foi passar férias na Aldeia de Rio Verde, em Tangará da Serra, território em que se estabeleceu na cultura Pareci. A partir da articulação em movimentos específicos que desenvolveu após o retorno ao seu povo, Daniel se tornou uma das principais lideranças Cabixi, obtendo, em um determinado momento, reconhecimento nacional. Sendo assim, em 1985 se tornou professor na Fundação Nacional do Índio (Funai); atuou como coordenador do órgão em Tangará da Serra (MT) e como coordenador no estado do Mato Grosso do Sul.
Daniel Cabixi escreveu algumas cartas no decorrer dos anos de sua atuação na luta, e seus escritos mostram seu desejo por uma organização política entre os povos indígenas. Entendendo que a luta organizada é fundamental para o avanço na conquista de direitos, Daniel escreveu para outras lideranças indígenas convocando-os para manifestações e encontros. Em 1977 escreveu para o Chefe de uma comunidade: “Estamos no nosso pleno direito de fazermos estes encontros. As autoridades da Funai poderão querer impedi-lo […] Mas temos que ser mais enérgicos e transpor essa barreira, porque quem quer bem ao índio é o índio”. Além disso, suas cartas mostravam a realidade de tutela que os órgão indigenistas firmam sobre os povos indígenas. Essa tutela acaba por despir os povos originários de autonomia, forçando-os a sobreviver com o que é oferecido pela Funai, retirando deles o poder de determinar, em conjunto, o que é melhor para seus respectivos povos, e indo contra o exato propósito da existência de órgãos indigenistas. Sobre isso, em carta escrita em 1979 aos indígenas da Puebla, ele afirma simplesmente: “O regime de tutela a que estamos submetidos visa a nos oprimir”.
Fontes:
https://www.pressenza.com/pt-pt/2020/03/escritores-indigenas-brasileiros/
SILVEIRA, Ema Maria dos Santos. Cultura como desenvolvimento entre os Paresi Kozarini. 2011. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
https://repositorio.ufrn.br/handle/123456789/12276
https://cimi.org.br/2017/11/daniel-matenho-cabaxi-seus-sonhos-se-tornam-os-nossos-sonhos/
https://www.taquiprati.com.br/cronica/1370-daniel-cabixi-o-sabio-na-cova-dos-leoes
https://xapuri.info/homenagens-a-daniel-matenho-cabixi-encantado-do-povo-pareci/