Quem foi Kokrenum Jopaipairé

Topramre Krohokrenhum ou Capitão

O cacique Kokrenum Jopaipairé, Topramre Krohokrenhum ou Capitão, como era conhecido entre o seu povo, foi uma das principais lideranças da etnia Gavião Parkatejê do estado do Pará. Ele foi o líder sobrevivente do primeiro grupo gavião contatado em 1957 por missionários, e esteve à frente do seu povo por mais de seis décadas. Era um excepcional jogador de flecha e grande cantador do seu povo, sempre acompanhado de seu maracá para conduzir o ritmo do canto. Sua trajetória foi registrada no documentário “Adeus Capitão”, dirigido por Vincent Carelli e Tatiana Almeida, que, por meio de gravações desde as primeiras fitas VHS, apresentam um retrato abrangente da vida do Capitão Krohokrenhum, sua perseverança na luta pela preservação do povo Gavião.

Sua história é marcada pela incessante defesa territorial e pela garantia dos direitos e da cultura de seu povo. Desde o início do contato com os não-indígenas (os kupen), quando a exploração da castanha do Pará e a invasão de seu território tradicional ameaçavam a sobrevivência de sua comunidade, Krohokrenhum mostrou-se um líder visionário e comprometido. A partir dos anos 30, seu povo começou a enfrentar desafios decorrentes da pressão de atividades econômicas e de invasões de terras.

Ao longo de décadas, os Gavião Parkatejê enfrentaram muitas dificuldades, incluindo conflitos internos e, principalmente, o genocídio do seu povo devido a doenças e guerras causadas pelo contato com os não-indígenas. Em 1966, o Capitão aceitou um acordo de realocação proposto pelo Serviço de Proteção aos Índios (SPI), que os realocou para a reserva Mãe Maria, próximo de Marabá. Nos dez anos seguintes, os indígenas Gavião trabalharam sob condições de semi-escravidão na coleta de castanhas. No entanto, com grande determinação, Krohokrenhum liderou o movimento que resultou na autonomia da comercialização da castanha, concedendo aos Gavião Parkatejê o controle de suas vidas econômicas, políticas e culturais. Na década de 1980, Krohokrenhum liderou novas batalhas, enfrentando a passagem de linhas de transmissão da Eletronorte que devastaram o território, atravessando até mesmo o cemitério de Mãe Maria. Entre 1976 e 1980, as negociações diretas pioneiras com a empresa estatal resultaram em uma indenização monetária direta aos Gavião Parkatejê, que reconstruíram a aldeia com esse recurso, restabelecendo sua forma circular tradicional. Após esse momento, o Capitão ainda lidou com duras negociações e conflitos com a então estatal Cia. Vale do Rio Doce devido à construção da Estrada de Ferro de Carajás no sul de Mãe Maria, que dividiu o território e provocou cisões internas após a privatização da empresa em 1997.

Em sua carta de 29 de outubro de 1980, o líder indígena expressa sua insatisfação com a FUNAI após terem mandado parar a obra da aldeia nova por uma carta ao engenheiro responsável pela construção. Na correspondência, Kokrenum reivindica o direito de realizar a obra com o valor da indenização, afirmando que a comunidade precisava melhorar suas condições de vida. Uma recusa a tentativa desenfreada do Estado para que vivessem em condições precárias. Ele critica a falta de assistência da FUNAI, como na fiscalização de serviços da Eletronorte e DER, e o não cumprimento de promessas feitas pelo presidente da Eletronorte. O Capitão expressa sua determinação em continuar com o projeto e reforça sua posição de não querer mais interferência da Funai, exigindo que a instituição cumpra apenas suas obrigações em questões como o envio de enfermeiros e professores para o território. Por fim, diz: “Se a comunidade parar a obra a Funai com seu dinheiro vai construir as nossas casas, antes da linha de transmissão da Eletronorte passar por cima das casas que a gente mora agora? É só”.

Fontes: 

Povo: Gavião Parkatêjê. Disponível em: <https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Gavião_Parkatêjê>.

Adeus, capitão Krohokrenhum. Disponível em: <https://terrasindigenas.org.br/pt-br/noticia/171386>.

RIBEIRO JUNIOR, Ribamar. Akrâtikatêjê: dominação e resistência na luta por seu território. Dis, 2014.

RICARDO, Beto et al. (Ed.). Povos indígenas no Brasil: 2006/2010. Instituto Socioambiental, 2011.

Adeus, Capitão. Disponível em: <https://ecofalante.org.br/filme/adeus-capitao>.

As Cartas de Kokrenum Jopaipairé