Quem foi Pedro Ngematücü

Pedro Inácio Pinheiro, Ngematücü, aquele que não tem pinta, pertenceu ao clã de onça do povo Tikuna. Ele nasceu em 12 de fevereiro de 1944 no Tunetü, um igarapé localizado no Éware, no território indígena que carrega o mesmo nome, na cidade de Tabatinga (AM). O Tunetü é um local sagrado onde, segundo sua tradição, Yo’i teria pescado o Povo Magüta, do qual os Tikuna seriam originários.

Em 1984, quando tinha 38 anos, narrou a sua própria história, que foi registrada em texto pela primeira vez por Reinaldo Otaviano do Carmo e depois por diversos estudos de análise linguística por professores Tikuna, orientados pela linguista Marília Facó Soares em um trabalho que realizava desde o início da década de 1980. Pedro cresceu entre os brancos, o que o levou a questionar sua própria identidade indígena. Quando tinha 18 anos, seu pai o levou de volta para o lugar onde havia nascido, dando início ao processo de reaproximação com sua família indígena. Ao estabelecer seu auto reconhecimento como indígena, Ngematücü trilhou um caminho que o levaria a reunir e liderar todos os caciques Tikuna nos anos seguintes. Até o seu falecimento em 2018,  a liderança mantinha sua influência na escolha das novas lideranças, os seus conselhos, assim como seu apoio, continuavam sendo ouvidos e respeitados. 

Pedro Inácio desempenhou um papel fundamental como um dos fundadores do Conselho Geral da Tribo Tikuna (CGTT), movimento que surgiu em um momento delicado da história, em que setores militares do governo brasileiro buscavam inviabilizar a demarcação das áreas de fronteira ocupadas pelo povo Tikuna. Durante muitos anos à frente do CGTT, ele liderou as reivindicações de seu povo em busca do reconhecimento de seus direitos étnicos. Como principal representante dos Tikuna, ele participou de longas e difíceis negociações com o Estado Brasileiro e a população regional. Seu esforço e determinação conduziram ao reconhecimento oficial das terras ocupadas pelos diferentes grupos locais Magüta, situados no alto rio Solimões, na região amazônica.

Nas correspondências escritas por ele, aparecem questões centrais da luta indígena, como a demarcação das terras, a preocupação com propostas de alteração constitucional que poderiam prejudicar os povos originários, saúde, educação e a busca por respeito e reconhecimento de suas organizações, além da preservação da cultura e identidade dos Tikuna, e também a manutenção dos modos de vida ancestrais.

“Eu morro por ele, por este meu povo. Por isso eu morro, por ela, esta terra, todas as coisas que acontecerem. Por ela eu morro”. Ngematücü disse essa frase em 1983. Ele foi um grande líder do povo Tikuna, desempenhou um papel imprescindível na unificação do seu povo na luta pela demarcação do território e garantia de seus direitos, disposto a realizar a autodemarcação das terras e expulsar funcionários da Funai, caso a demarcação oficial não acontecesse. Sua dedicação exemplar na luta pela garantia dos direitos territoriais e preservação da cultura Tikuna foi fundamental para o movimento indígena no Brasil.

Fontes: 

SOARES, Marília Facó; PINHEIRO, Pedro Inácio; CARMO, Reinaldo Otaviano do. Tchorü duüügüca’tchanu. Minha luta pelo meu Povo. Niterói: EDUFF, 2014.

Teixeira, Nilza Silvana Nogueira. “Museu Magüta, uma trajetória Ticuna: a colaboração como método no estudo de coleções etnográficas e na formação de museus indígenas.” (2022).

Pedro Inácio Pinheiro/Ngematücü. Disponível em: <https://www.ces.uc.pt/emancipa/voices/gen/ngematucu.html>.

Movimento indígena perde Pedro Inácio Tikuna. Disponível em: <https://cimi.org.br/2018/07/movimento-indigena-perde-pedro-inacio-tikuna/>.

Lua de sangue: dona Baku, Pedro Inácio e Rubinho. Disponível em: <https://racismoambiental.net.br/2018/07/29/lua-de-sangue-dona-baku-pedro-inacio-e-rubinho-por-jose-ribamar-bessa-freire/>.