Marçal de Souza Tupã-Y, nascido no estado do Mato Grosso do Sul em 1920, foi um líder indígena, defensor dos direitos dos povos Guarani Ñandeva e uma importante figura na luta pela demarcação de terras indígenas no Brasil. Ele foi covardemente assassinado aos 38 anos, em 1983, por um latifundiário, fato que reafirma a longa história de violência contra os povos indígenas por parte dos grandes agropecuaristas, garimpeiros e fazendeiros.
Marçal demonstrou uma forte conexão com a cultura e tradições de seu povo, e uma profunda preocupação com a defesa de suas terras e direitos. Ele foi testemunha dos conflitos e violência sofridos pelo povo Guarani devido à ocupação e exploração de suas terras por parte de fazendeiros, empresas e o avanço da fronteira agrícola, e em determinado momento de sua vida concluiu que a vida em comunidade com seu povo era fundamental para sua sobrevivência: “[…] propus em minha vida viver toda a vida, viver entre meus irmãos, para pelo menos sentir seu sofrimento, a sua vida, o seu viver[…]”.
Marçal tornou-se uma liderança e voz importante de sua comunidade, atuando na luta pela demarcação de terras e pela preservação da cultura e dos valores tradicionais dos Guarani Ñandeva. Sua atuação como líder indígena foi marcada por mobilizações e ações diretas em busca do reconhecimento e demarcação das terras indígenas, como participação em assembleias nacionais e internacionais. Marçal também foi um elo entre os povos indígenas e a sociedade brasileira, buscando sensibilizar as autoridades e a opinião pública sobre a importância da preservação dos territórios indígenas e da garantia dos direitos dos povos originários, por meio de seu reconhecimento internacional foi escolhido para falar com o Papa João Paulo II em nome dos povos indígenas do Brasil.
Na carta escrita por Marçal e endereçada ao Papa João Paulo II em 1980 ele fala como representante de seu povo e afirma que os povos indígenas são subjugados no Brasil, e que sentem como se o país estivesse ficando pequeno para os indígenas, na medida que fica grande para os não indígenas. Marçal finaliza sua comunicação falando sobre a verdadeira história do país: “Este é o país que nos foi tomado. Dizem que o Brasil foi descoberto, o Brasil não foi descoberto não, Santo Padre, o Brasil foi invadido e tomado dos indígenas do Brasil. Esta é a verdadeira história. Nunca foi contada a verdadeira história do nosso povo, Santo Padre. Eu deixo aqui o meu apelo. Apelo de 200 mil indígenas que habitam, lutam pela sua sobrevivência nesse país tão grande e tão pequeno para nós, Santo Padre”.
Para saber mais sobre Marçal de Souza, acesse:
http://memorialdademocracia.com.br/card/cinco-tiros-tombam-o-grande-cacique