Quem foi Mário Juruna

A vida e a pós-vida do Xavante Mário Juruna (1943-2002) é uma mostra do Brasil em suas caleidoscópicas e contrastivas traduções da pergunta, ainda confusa para muitos brasileiros, sobre quem é o índio ou, em suas contemporâneas atualizações, para que o índio. Juruna viveu e reformatou as respostas para essas questões muito antes do seu primeiro contato com o não-indígena, aos 17 anos, e muito depois de entender que, com um gravador na mão, jamais poderia continuar sendo um parlamentar indígena no Congresso Nacional do Brasil.

A Terra Indígena São Marcos do Povo Xavante (povo desconhecido pelo Estado brasileiro até a década de 1930), abrigo da vida, do distanciamento e da construção política do Juruna como pai, político, ativista e cacique, não é somente parte da história dos Indígenas, ainda silenciada nas escolas e mídias, mas é, principalmente, parte iconológica da memória de um Brasil que as historiografias insistem em apagar. Revisitar a iconologia dessa memória do Juruna em vida e pós-vida é entrar em contato com os textos jornalísticos, artigos acadêmicos, crônicas, entrevistas, fotografias, dissertações, teses, filmes, cartas e com todo regime discursivo que construiu sua imagem como homem público. Nas frestas desses documentos, vemos o Brasil que, da Era Vargas ao Regime Militar, instituiu o regime tutelar para os indígenas, tendo a Comissão Rondon como provedora dos caminhos comunicativos do processo de reconhecimento do território brasileiro, com a proposta de pacificar, integrar e nacionalizar os índios.

Por outro lado, essas frestas também silenciaram a complexa rede de narrativas que o nome Juruna agenciou, seja como um dos organizadores do primeiro encontro nacional de lideranças indígenas no Brasil, ou como falante da língua aǯuwen ou akwén, em suas sofisticadas formas de nomear o mundo; seja como militante da causa indígena, que produziu, nas suas andanças com o seu gravador pelos corredores do parlamento brasileiro, significativos documentos sobre o sistema político nacional, durante o período de 1982-1986. Nessa rede também estão presentes as vozes que mediaram a relação de Juruna com outros líderes indígenas, com indigenistas, políticos e antropólogos que, por exemplo, trabalham com Juruna na autoria do livro O gravador de Juruna (1982), organizaram sua campanha política, mediaram sua relação com a mídia, tentaram subornar suas práxis; atores que (des)construíram, para além do bem e do mal, o seu nome e a ideia de índio para dentro e para fora do Brasil.

Para saber mais sobre Mário Juruna, acesse:

https://www.em.com.br/app/noticia/politica/2023/04/19/interna_politica,1482935/juruna-a-voz-do-guerreiro-gravada-na-historia.shtml

https://pdt.org.br/index.php/mario-juruna-maior-protagonista-na-luta-por-direitos-indigenas-no-brasil/

As Cartas de Mário Juruna