Cacique Nailton Pataxó Hãhãhãe: “Vamos morrer lutando, mas vamos sempre brigar por aquilo que é nosso"

Nailton Muniz Pataxó, do povo Povo Pataxó Hã hã Hãe e também de origem  Tupinambá é referência de ativismo e liderança indígena. A vida de Nailton é, por vezes, confundida com a história de luta de seu povo pela retomada da terra em que vivem atualmente, isso porque ele é uma das figuras centrais na reconquista da Terra Indígena Caramuru-Catarina Paraguassu em Pau Brasil na Bahia. Por isso, é emblemático o nome do documentário “Retomar para existir”, que conta um pouco de sua história.

Nailton hoje é um dos caciques do Posto Indígena Caramuru, mas até a retomada dessa terra, vivenciou a investida estatal, política, midiática e, sobretudo, extremamente violenta, dos fazendeiros da região. Nailton nasceu na região do Rancho Queimado, na Bahia, viveu e plantou com sua família até serem expulsos pelos fazendeiros locais. Após esse primeiro movimento, se mudou  do povoado Jacarici  para Palmira. Nailton passou a trabalhar, desde muito novo, carregando pedra, tijolo e areia para construções, até que, aos 16 anos, começou a trabalhar como pedreiro – profissão que exerceu ao se mudar para São Paulo, com 18 anos. 

Após 10 anos, Nailton retornou a Palmira e foi orientado pela família a participar da articulação com o povo Pataxó. Desde então,  ele tem sido uma importante liderança. Com ele, toda família “Muniz”, como são referenciados, resistiram e ocuparam a Fazenda São Lucas por dezessete anos. Nesse período, os Pataxó promoveram retomadas nas fazendas Baixa Alegre e Tito Machado, bem como nas regiões de São Sebastião e Bom Jesus, mas enfrentaram além da pressão midiática, as constantes reintegrações de posse de fazendeiros, que com influência política, utilizam do poder estatal para promover suas investidas, em conjunção com a polícia. 

Também nesse período, Nailton Pataxó participou da mobilização e articulação de ações para inclusão dos Povos Indígenas na Constituição Federal de 1988, uma das maiores conquistas para os povos indígenas nas últimas décadas. Mesmo com todo esse avanço, apenas em abril de 2012 o povo Pataxó conquistou sua maior vitória: a grande retomada de suas terras, cujo segundo avanço resultou na reconquista de toda reserva da região do Rio Pardo. Pela excepcionalidade desse processo, a ação de retomada foi finalmente julgada, a pedido da Ministra Cármen Lúcia em maio de 2012. 

A história de Nailton Pataxó se confunde com a luta de seu povo, mas para além disso, ele é descrito como altivo em seu enfrentamento aos poderosos e delicado em seu trato com as crianças. Pouco antes da grande retomada, Crispina Fernandes relatou, no documentário “Retomar para Existir”, que Naitlon sonhou com um grande ritual que deveria ser realizado com brevidade. Nesse ritual, Nailton afirmou que se sentiu outra vez nas terras em que nasceu; em determinado momento, bateu a lança na estrada e afirmou: a partir desse dia, nenhum fazendeiro entra mais aqui e, até então, nenhum fazendeiro retornou. 

Documentário “Retomar para Existir: 

https://vimeo.com/236019029