Azelene Kring Inácio Kaingang

Azelene Kring Inácio Kaingang, indígena do povo Kaingang da metade Kamé, nasceu na Terra Indígena Carreteiro, no município de Água Santa, no estado do Rio Grande do Sul em 1965. Possui formação em sociologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná e mestrado em dinâmicas sociais e políticas regionais da Universidade de Chapecó. Servidora na Fundação Nacional do Índio (FUNAI) há mais de 30 anos, Azelene foi assessora, coordenadora geral de Defesa dos Direitos Indígenas e Diretora de Proteção Territorial do órgão, mas foi exonerada desse último em 2019 pelo então ministro Sérgio Moro. Atualmente, exerce o cargo de coordenadora regional substituta na unidade da Funai em Chapecó (SC), a Coordenação Regional Interior Sul.¹

Azelene resistiu à dominação e imposição cultural do seu povo desde muito pequena. Em sua escola, era castigada por insistir em falar em kaingang, e sempre desobedecia as autoridades que queriam impor que falasse apenas em português.² Ela afirma que a sensibilidade para defender os direitos dos povos indígenas nasceu de uma tragédia: em 1981, oito kaingangs foram mortos em um conflito. Assim, Azelene seguiu a defesa dos povos e firmou-se como importante representante indígena, ao participar de uma série de conselhos nacionais; ela é fundadora e membro da Comissão Nacional das Mulheres Indígenas e do Warã Instituto Indígena Brasileiro. 

Entre 2003 e 2007, participou da redação e aprovação da Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas, sendo a representante dos indígenas brasileiros. Por conta dessa atuação e de outros movimentos, Azelene recebeu, em 2006, o Prêmio Nacional de Direitos Humanos e quatro anos depois, recebeu a Comenda da Ordem do Mérito Cultural 2010, ambas premiações no governo do ex-presidente Luíz Inácio Lula da Silva. 

Tal Declaração seria importante para barrar mineração e grandes obras que atingissem reservas indígenas, no entanto, a luta não chegou ao fim: em 2011, Azelene foi impedida pela FUNAI de participar da décima edição do Fórum Permanente da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Questões Indígenas, isso porque temiam que ela denunciasse a construção da Usina de Belo Monte e seus impactos, que podem ser vistos hoje.

Apesar de tão grande histórico de luta, Azelene tem enfrentado algumas controvérsias. Ainda em 2008, foi acusada pelo MPF de ter atuado a favor do empresário Eike Batista na construção do complexo portuário Porto Brasil (SP). Já em 2017, as lideranças reunidas no Acampamento Terra Livre, se manifestaram contra sua nomeação ao cargo de Diretora de Proteção Territorial da Funai, responsável por todo o processo de demarcação de território no órgão. Somado a esses fatores, sua exoneração em 2019 se deu devido às investigações do MPF por um possível “conflitos de interesse”, por, entre outras coisas, ser próxima da bancada ruralista e conhecida da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, que chegou a cogitar seu nome para presidência da Funai.³

1 https://www.gov.br/funai/pt-br/assuntos/noticias/2020/azelene-kaingang-coordenadora-da-funai-em-chapeco-sc-e-a-entrevistada-da-semana-em-homenagem-ao-mes-do-servidor-publico

https://istoe.com.br/6532_UMA+INDIA+BRASILEIRA/

3 https://www.terra.com.br/noticias/damares-assina-exoneracao-de-diretora-da-funai-e-confirma-novo-presidente,b0af4a922311897913a359fa09e79fdavc45qagr.html