Joênia Wapichana, nascida em Boa Vista em 1974, é indígena do povo Wapichana e foi a primeira mulher indígena eleita como Deputada Federal do Brasil. Joênia foi primeira em diversos sentidos. Abriu portas na política para mulheres indígenas e seu campo de atuação -a advocacia- se beneficia da perspectiva de uma representante indígena visto a grande ausência de povos originários em cargos políticos.
Joênia nasceu na comunidade indígena Cabeceira do Truarú e ali viveu até seus 8 anos de idade, quando se mudou com sua mãe para a área urbana de Boa Vista. Cursou seu ensino médio e logo depois iniciou o curso de direito na Universidade Federal de Roraima (UFRR) em 1993. Se formou em 1997 e fez seu mestrado na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos.
O povo Wapichana, assim como a maioria dos outros povos indígenas do Brasil, sofre com exploração de mão-de-obra e descaso em temas como educação e saúde. Sendo assim, se torna evidente a importância de uma mulher indígena na política, que possa defender os interesses dos Wapichana e outras etnias. Em 2008 a advogada esteve presente no julgamento da demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, levando em seu rosto uma pintura que representava “força e lealdade”, e se apresentando com uma saudação Wapichana.
Joênia Wapichana preza pela proteção cultural dos povos indígenas e afirma que leva junto a si sua cultura e cosmovisão em todos os lugares em que está presente: “a cultura não é um lugar territorial. Você carrega consigo as suas crenças, os seus costumes e as suas tradições. É por isso que quando me deparo com um processo judicial, eu o interpreto segundo a visão da minha cultura. O respeito à diferença e a preservação da cultura indígena são princípios presentes na Constituição.”. Além disso, ela manifesta questões de gênero e deixa claro a importância de refletir e ter ações concretas quanto à preservação de direitos de mulheres indígenas, que, mesmo tendo apresentado certos avanços com os anos, ainda são altamente negligenciados.
Em 2019 Joênia Wapichana escreveu uma carta endereçada ao Brasil, onde assinou como representante de seu cargo como Coordenadora da Frente Parlamentar Mista em Defesa dos Direitos dos Povos Indígenas. O assunto principal da correspondência é a urgência da demarcação de territórios indígenas, e ela ressalta o papel imprescindível da FUNAI nesse processo.
Mesmo que a Constituição aparente reconhecer a importância da demarcação e a necessidade dela para a preservação da cultura, língua, costumes, vida em comunidade e diversos outros aspectos das vivências indígenas, ainda existem diversos atrasos e relutâncias no asseguramento efetivo desse direito, visto que questões de interesse econômico constantemente apresentam uma barreira nos processos de demarcação: “Além disso, há um óbvio conflito de interesses sobre demarcação das terras indígenas no MAPA que mantém políticas de apoio ao agronegócio que conflitam com o direito indígena.”. Sendo assim, Joênia Wapichana se mostra como figura necessária no cenário político, para que a defesa e o interesse sejam direcionados não às questões econômicas, mas às demandas reais dos povos indígenas do Brasil.
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