O índio aviador é um termo que pode-se utilizar para falar do homem, filho, ativista, aviador, escritor e comunicador indígena, Marcos Terena.
Nascido na aldeia conhecida como posto indígena de Taunay, localidade do estado do Mato Grosso do Sul, no dia 15 de julho de 1952, Mariano Justino Marcos Terena viria se tornar um gigante no que tange a ruptura das práticas anti-indígenas e construiria uma jornada que o colocaria em na posição de um dos maiores líderes e ativistas pela causa indígena no Brasil.
Aproximadamente aos sete anos Marcos demonstrou alfabetização e letramento em língua portuguesa, e com isso seguiu seus estudos em direção ao ensino tradicional em escolas da atual capital do estado sul mato-grossense, Campo Grande.
Devido ao preconceito que cerca e persegue a população indígena dentro da sociedade brasileira, sua trajetória de aprendizado encontrou dificuldades que iam muito além da falta de afinidade com letras e números. O seu inimigo eram as pessoas, especificamente as que reproduziam em seus discursos marcas do colonialismo, racismo e anti-indigenismo encobertos por falas racistas a respeito de sua ancestralidade.
Mas isso não foi uma trava para Terena. Ele, mesmo desde cedo sentindo o peso das situações vexatórias às quais era submetido, formou-se no melhor colégio público da capital sul-mato-grossense da época, o Colégio Estadual Campo-grandense.
A conclusão de sua educação em nível básico foi o ponto de partida para que o indígena ganhasse novos horizontes e fosse aprovado no exame vestibular da Academia da Força Aérea. Local onde ele absorveu conhecimento sobre aviação e comando de aviões, sendo o primeiro indivíduo indígena a se tornar piloto comercial de aeronaves.
No entanto, por conta do racismo institucional, especificamente devido a Lei 6001 promulgada em 1973, que na época classificava o indígena como relativamente incapaz de ocupar funções do tipo, ele foi impedido de ocupar a função (com a constituição de 1988 essa lei foi alterada, mas mesmo assim, em um momento pretérito, não deixou de afetar a vida de Marcos Terena).
Esse episódio desmotivador e revoltante foi essencial para o seu despertar político. A situação, atrelada ao estudo dos direitos e das situações que cercavam a causa indígena marcou o começo de itinerários ativistas que perduram até os dias de hoje.
A sua incisiva movimentação política fez com que ele fosse notado e que tivesse seu trabalho reconhecido, chegando a ser conhecido como um dos articuladores essenciais para a aprovação de uma das leis que protegem os interesses indígenas na constituição promulgada em 1988.
O criador do movimento a União das Nações Indígenas além de seu trabalho ativista durante as décadas de 80 e 90 do século xx, foi também, em 2007, o primeiro indígena a assumir a gerência do Memorial dos Povos Indígenas de Brasília. No ano passado, foi o idealizador dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas. Hoje mora em Brasília, é membro da Comissão Brasileira Justiça e Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e do grupo de trabalho sobre identidade indígena do Ministério da Educação (MEC).
A comunicação e a palavra aparecem para Marcos e assim como para outras lideranças indígena, ele as usa como instrumentos de salvaguarda da vida, direitos e integridade dos seus, os povos originários. A sua produção agenciada pela palavra está manifestada tanto na fala quanto na escrita.
Na fala é possível citar inúmeras entrevistas para jornais, revistas, sites e outros veículos de comunicação. Já no que permeia a escrita, a produção de Terena está alocada na produção de alguns livros. Sendo possível citar a publicação de Jogos mundiais dos povos indígenas: Brasil, 2015: O importante é celebrar!, em 2017, como a mais recente.
Atualmente, em 2021, ele continua atuando no ativismo indígena e se consolidou enquanto um nome de respeito nas comunidades indígenas e não-indígenas, em âmbitos nacionais e internacionais.
Conclui-se afirmando que o nome Marcos Terena é sinônimo de construção, luta e resistência. Muitos de seus feitos formam uma vanguarda que abriu caminho para a consolidação do movimento indígena que existe hoje em dia.