Simão Soares Parayba atuou dos dois lados da luta luso-holandesa no século XVII, ainda que não seja conhecida como as dos demais líderes indígenas, sua história é rodeada por reviravoltas e grandes feito. Acredita-se que Simão Parayba tenha sido tio de Antônio Felipe Camarão, potiguar que liderava as esquadras portuguesas (MORAES e SILVA, 1855, apud MONSERRAT et al, 2020 p. 02) e a quem se aliou no no início do século citado, as informações de parentesco sanguíneo são confusas devido ao tratamento trocado entre indígenas como parentes nos registros, como ainda é recorrente nos anos atuais.
Durante as tentativas de expulsão dos franceses pelos portugueses na região do Maranhão, Simão Soares fez parte do exército, lutando pelo lado lusitano entre os anos de 1614 e 1625, quando se aliou aos holandeses que chegaram à Baía da Traição – sendo assim, pertencia à geração anterior a de Felipe e Pedro Poti. Posterior ao momento em que os holandeses foram expulsos, Parayba foi capturado pelos portugueses, permanecendo preso no Forte dos Reis Magos em Natal até o ano de 1633, neste ponto que se observa a articulação do líder que sob a promessa de perdão e incorporação à força militar, se aliou novamente aos lusitanos estabelecendo relações com o povo potiguar para convocação de indígenas para a guerra.
A subida de patente aparece no relato referido em Um escrito tupi do capitão Simão Soares Parayba (1645) (MONSERRAT et al, 2020) acerca do discurso feito por Simão Soares em aldeias indígenas para o convencimento e recrutamento de novos soldados, em que se lê: “Entenda finalmente cada um de vós que se qualquer faltar a obrigação de bom e leal vassalo do nosso rei, eu lhe servirei de verdugo” (Coelho, 1654 apud Moraes e Silva, 1855, pp. 73-74). A presença da atuação de Simão Parayba também aparece no pós-escrito de uma carta endereçada a Pedro Poti em 19 de agosto de 1645 cujo remetente, Antônio Felipe Camarão, pede a rendição do destinatário ao lado português.
O pós-escrito de Simão Soares Parayba na carta de Antônio Felipe Camarão à Pedro Poti dá sinais da capacidade de persuasão no discurso do Capitão, demonstrando dualidade através de ameaça e negociação: “Se vocês não confiam, vocês são uns aleijados.” e “Ó meus parentes, (que pena!) vim aqui para retirar vocês de uma morada ruim. Eis que aqui estou. Confiem em mim.” (NAVARRO, 2022, p. 11). Dito isso, estudiosos que analisam os discursos produzidos nas cartas e transcritos nos registros de oratórias, confirmam o domínio da linguagem na realização de atribuições que garantiram a sobrevivência desses líderes no contexto de guerra, para proteger suas famílias e parentes que residiam nas aldeias.
Texto: Érica Damasceno
MONSERRAT, Ruth; BARROS, Cândida; BARBOSA, Bartira Ferraz. Um escrito tupi do capitão Simão Soares Parayba (1645). In: OpenEdition Journals, 2020.
MORAES, A. J. de M. e SILVA, I. A. de S. (1855). Memórias diárias da guerra do Brasil por espaço de nove anos, começando em 1630 deduzidas das que escreveu o Marquez de Basto, Conde e senhor de Pernambuco. Typographia de M. Barreto. Rio de Janeiro. Disponível em https://archive.org/details/memoriasdiarias00bastgoog/page/n1
NAVARRO, E. A. Transcrição e tradução integral anotada das cartas dos índios Camarões, escritas em 1645 em tupi antigo. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, Belém, v. 17, n. 3, 2022.