Exmº Sr. Presidente da SABESP
São Paulo-Capital
Ref. BARRAGEM CAPIVARI MONOS
Senhor Presidente,
A AGUAI – Ação Guarani Indígena, vem pela presente manifestar sua posição em relação à construção da Barragem Capivari Monos que, caso fosse realizada, afetaria drasticamente o universo Guarani. Tendo em vista os argumentos apresentados até o presente momento pela SABESP que propugnam pela necessidade da construção para o benefício da região da região sul da capital paulista e tendo em vista os vários contactos que a AGUAI teve com a SABESP para obter maiores informações sobre o empreendimento e que transcorreram em clima de cordialidade e respeito, sentimos na obrigação de explanar os motivos exatos que nos levam a rejeitar a construção da referida obra e que enumeramos abaixo:
1 – A área que será afetada pela construção define-se como território tradicional Guarani nos termos dos artigos 231 e 232 da Constituição Federal porque ela é usada pelos índios Guarani para diversas atividades, tais como, caça, pesca, coleta de matéria prima para o artesanato, coleta de remédios e outras atividades necessárias para sua subsistência. Além disto os Guarani que nessa área adentram reconhecem-na de imediato como parte do seu território por razões de ordem religiosa. As plantas são nossas conhecidas, os animais, o céu, as estrelas, as montanhas e os vales. Sua destruição afetaria nossas vidas de uma maneira tão profunda que não podemos suportar.
2 – A área proposta para a Barragem Capivari Monos situa-se na Serra do Mar, na Mata Atlântica, cuja fauna e flora são abundantes e precisam continuar existindo. Essa mesma área da qual estamos falando é uma área de ocupação Guarani bem antes da vinda dos europeus colonizadores, bem antes de existir o Estado brasileiro e por isso estamos legitimados a defender a área e a natureza não só para garantirmos nossa existência como também para garantir a existência dessa fauna e dessa flora e assim estaremos contribuindo com o planeta e com a humanidade.
3 – Nhanderú onhono yvy
Deus pai criou a Terra
Odjapó kaágwy
fez a mata
omoîgo mymbá opá
criou todos oa animais
maba’e mo’7 oiko’i aguã
e criou todos que vivem na Terra para viverem na terra
Nhanderú odjapó itá
Deus criou a pedra no seu lugar
Nhanderú odjapó ywy
Deus criou a Terra também no seu lugar
Eta va’te kuery ou rire opá mbá’e nhanderú rembi apó
ombovaiparei okuapy
O branco veio destruindo a obra de Deus,
odjuká yvy rupá
matando a Terra
odiuká ka’aguy
matando a mata
odjuká mymbáã
matando os animais
odjuká yy akã
matando os rios
oréajuka, peê ae ve’e pedjedjuká
esta nos matando e ao mesmo tempo matando-se a si mesmo
juruá kuery odjuká erawyma orexy ywy
os brancos estão matando a nossa mãe Terra
Oré doroexa xe eveima omoigoa xy rei romo.
Nós não queremos mais vê-la ser judiada.
É por todas estas razões, Senhor Presidente, e por bem mais que isto, mas que infelizmente a impossibilidade que temos em expressar em português aquilo que só em Guarani sentimos e podemos exprimir, é que lhe enviamos a presente carta para expressar nossa total, irrevogável e irretratável recusa à realização da Barragem Capivari Monos, solicitando a Vossa Senhoria e a todas as autoridades envolvidas que reconsiderem o encaminhamento desta obra, arquivando definitivamente o projeto. Estamos certos que Vossa Senhoria, as autoridades e os especialistas encontrarão outra solução para o abastecimento de água da região sul da capital de São Paulo que não afete nenhum território Guarani.
Sendo o que havia para o momento e certos de vossa compreensão do problema, aproveitamos da oportunidade para apresentar nossos protestos de consideração e estima.
Atenciosamente,
APARICIO DA SILVA
Presidente
DAVID DA SILVA
Vice Presidente
MARCOS TUPÃ
Secretário
Original: AÇÃO GUARANI INDÍGENA carta ao pres. da Sabesp manifestando oposicao a construcao da barragem