Brasília, 15 de fevereiro de 1993.

Do povo Kayapó para o Presidente Itamar Franco

Excelentíssimo Senhor Presidente da República Federativa do Brasil 

 

Os representantes das aldeias Kaiapó estamos aqui para pedir que atende nosso pedido e que nos escute.

Viemos de muito longe, deixamos nosso povo e nossos trabalhos não veimos aqui pedir o que não temos direito. Não queremos nada de ninguém, só queremos o que é nosso por direito.

O povo Kayapó nasceu aqui neste Brasil tão grande. Muitos de nossos parentes já morreram e nossos velhos contavam estórias de muito sofrimento. Muitos brancos que invadiram nossas terras roubaram, mataram mulheres, crianças e velhos, toamndo nossas terras. 

Os mais jovens correram para outros lados e foram fazendo novas aldeias. Fomos sendo espremidos ficando cada vez menor. Os brancos foram entrando em nossas aldeias levando doenças que nossos pajés não sabem curar. Hoje necessitamos de remédios e hospitais dos brancos. As doenças foram o presente que o branco deixou para o nosso povo. Agora depois de muito sofrimento estamos pensando que o branco quer acabar com o Índio brasileiro.

Queremos fazer uma denúncia é sobre a FUNAI e várias entidades e fundações que foram criadas dizendo proteger o Índio, sempre estamos escutando que chegou muito dinheiro, só que esse dinheiro nunca chegou até o Índio, fica na mão do branco e só promessa fica para nós.

Já estamos cansados de tanto escutar promessas, o branco só fala mentira e engana o Índio.

Ficamos sabendo que o IBAMA, FUNAI e ECOLOGISTAS, proibiram cortar e vender madeira das áreas indígenas, só do branco pode ser cortada, por que? Nenhum madeireiro quer fazer contrato com as comunidades Kaiapós. E agora o que vamos fazer? Quem vai comprar remédios, pagar hospitais, transpor Índios com doenças, que o branco deixou de presente para o nosso povo? 

Hoje já temos nossas farmácias, enfermeiras, escolas e professoras, dentro das nossas comunidades e também nosso transporte que serve nossas comunidades e todos os nossos parentes que precisarem de qualquer socorro de emergência. Tudo isso nós pegamos com a madeira que vendemos, FUNAI e nem ninguém pega hospitais ou qualquer outra coisa para Índio. Só nosso povo paga tudo, da madeira que a natureza fez para o Índio.

Muita gente fala que o Índio está destruindo a natureza. Isso é mentira do branco, quando vendemos nossa madeira por direito de primeiro brasileiro, muitas outras árvores já estão crescendo de novo. Muita semente cai e nasce e a árvore é como homem que nasce, cresce e depois morre. Só vendemos madeira que já está velha, enquanto que homem branco faz fazenda muito grande, corta toda madeira, vende e depois faz pasto, compra gado e nunca mais nasce nenhuma árvore. 

Somos uma liderança de Caciques Kaiapó , governamos nosso povo igual seus governadores governam seu povo, te respeitamos como nosso grande chefe, mas também queremos ser respeitados e que aceite nossos pedidos.

Temos dois pedidos e fazer: 1) que seja dado a cada aldeia Kaiapó o valor de 50,000 (cinquenta mil dólares por aldeia, para que possamos continuar cuidando do nosso povo e fazendo nosso trabalho de governantes das aldeias abaixo relacionadas:

a) PUKANU; 

b) KUBENKOKRE; 

c) BAU; 

d) KUBENKRAKE; 

e) GOROTIRE; 

f) CAHOERÃ; 

g) KAPOTO; 

h) KRIKRETU; 

i) KROKAIMORO) 

j) KATETE; 

l) BAKAJÁ; 

m) KARARAO; 

n) MEKTUTIRE; 

o) AUKRE; 

p) MONOKOKETE; 

q) KREAMPARE;

O fato de pedir em dólar é porque lá naquela região toda a vida e todas as coisas são negociadas em dólar, porque o homem branco que vende as coisas para os Índios sempre cobrem mais caro para Índio.

Outra alternativa é que libere nossas áreas porque sabemos o que estamos fazendo e que nunca vamos deixar que a nossa floresta acabe. Ele é o futuro dos nossos netos. Queremos continuar fazendo contrato com os madeireiros e exportando nossas madeiras. É com esse dinheiro que estamos cuidando do nosso povo. 

Você cuide do seu povo, nós cuidamos do nosso povo que há muito tempo já estamos fazendo bem antes do branco chegar. Não podemos esperar promessas da FUNAI e fundações porque sabemos que não chega até nosso povo.

Este documento é assinado por lideranças Kaiapós e seus guerreiros que vieram até Brasília para resolver o problema de vida dos Kaiapós que poderão morrer por falta de assistência se não tiverem pelo menos um dos pedidos atendido acima relacionado.

 

Assinaturas presentes no documento original. 

 

Fonte: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/carta-dos-indios-kayapo-dirigida-ao-presidente-da-republica

Original: 1993.02.15 Dos Kaiapós ao Presidente da República (1)