Gersem José dos Santos Luciano, do povo Baniwa, é professor indígena na Universidade Federal do Amazonas (UFAM). Nasceu em 1964, no Yaquirana Rendá (Sítio Jaquirana), em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. É graduado em Filosofia pela UFAM e tem mestrado e doutorado em Antropologia Social pela Universidade de Brasília (UnB).
Em sua tese de doutorado, intitulada “Escola Indígena para manejo e domesticação do mundo: os desafios da educação escolar indígena no Alto Rio Negro”, e defendida no dia 31 de outubro de 2010, o acadêmico indígena relata um pouco sobre sua vida pessoal. Nesse relato conta da infância na aldeia, os anos de estudo em um internato missionário, o encontro com o movimento indígena e sua trajetória profissional.
Gersem afirma que seus anos iniciais foram profundamente marcados pela vida na aldeia, onde aprendeu as lições, morais, espirituais e as relações socioculturais. Gersem afirma também que sua personalidade e identidade são marcadas pela vida e as atividades comunitárias Entre os anos de 1975 e 1985, com 12 anos, passou a estudar no regime de internato com missionários salesianos em diversos centros missionários, distantes de sua aldeia. Nesse período, em que só retornava nas férias, entrou em contato com muito mais do que apenas os conteúdos letivos, também vivenciou preconceito, egoísmo, individualismo, desigualdade, injustiça, disputa, concorrência e falta de solidariedade. Por isso, Gersem afirma que esses anos foram decisivos para sua vida de militância política, acadêmica e profissional.
Ao concluir o Ensino Médio, Gersem voltou à aldeia e começou a lecionar na escola local. Ele afirma que ainda não conhecia muito bem o histórico, a luta e a situação dos povos indígenas, não conseguia entender bem porque as empresas mineradoras e os projetos militares poderiam ser tão nocivos, já que prometiam progresso. No entanto, devido uma ação próxima ao território, foi indicado como representante de seu povo, por ser professor, em uma assembleia promovida pelo governo federal. Nela, também foi indicado pelas lideranças indígenas da região para compor a primeira Diretoria Executiva da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), criada durante a assembleia, e assim se tornou vice-presidente dessa organização.
No mesmo ano, ajudou a criar a Associação das Comunidades Indígenas do Rio Içana (ACIRI), a primeira organização indígena baniwa. O movimento de oposição criado por essas organizações foi respondido com perseguições, ameaças e violências aos indígenas da região, por parte das empresas e dos militares. Desse momento em diante, Gersem afirma ter compreendido a gravidade da situação dos povos indígenas e passou a ser um participante ativo das lutas. Assim, em 1996 foi eleito Coordenador Geral da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) para o mandato de dois anos, o qual só pode exercer por um ano e meio, pois foi convocado para a Secretária de Educação (sendo um dos primeiros indígenas a assumir um cargo em uma secretária pública) de seu município. Dessa forma, foram doze anos de atuação em organizações indígenas, além da FOIRN e da COIAB, em organizações de professores e outras articulações.
Entre as experiências acadêmicas de graduação, mestrado e doutorado, Gersem teve experiências profissionais em que lecionou, foi secretário municipal de São Gabriel da Cachoeira, coordenador técnico no Projeto Demonstrativo dos Povos Indígenas, perito local na assessoria direta à COIAB na Agência de Cooperação Técnica Alemã – GTZ, até ser indicado pelas organizações indígenas como Conselheiro Titular do Conselho Nacional de Educação (CNE) no Ministério da Educação. Ainda no MEC, assumiu a Coordenação Geral de Educação Escolar Indígena, no âmbito da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD).
Tendo participado ativamente de grande parte das transformações vivenciadas pelos povos indígenas nas últimas décadas, contribuindo e lutando concretamente, Gersem tem sua história profundamente ligada aos avanços e desafios enfrentados pelos indígenas. Autor do livro “O Índio Brasileiro: o que você precisa saber sobre os povos indígenas no Brasil de hoje” lançado pelo MEC e pela UNESCO, ele é uma das vozes de diálogo para disseminação da cultura e da luta dos povos indígenas.
https://repositorio.unb.br/handle/10482/9931
https://ensinosuperiorindigena.wordpress.com/atores/individuos/gersem-baniwa/