Filho da etnia Tukano, população indígena que habita parte do território amazonense banhado pelas margens do rio Uaupés, Gabriel dos Santos Gentil nasceu na cidade de São Gabriel da Cachoeira, e durante sua vida inclinou-se a trabalhar pela salvaguarda do seu povo e, consequentemente, dos povos indígenas habitantes do território brasileiro.
O seu pensamento se traduziu em atitudes, e essas o colocou na atuação em frentes de conflitos e questões políticas onde a ação de mãos não indígenas ameaçava, em diversos aspectos, a existência do povo que ele vorazmente defendia.
Um exemplo disso é quando, em 1981, em pleno período ditatorial, ele vai a público denunciar abusos por parte de ordens religiosas e marcar posição contrária à proposta do governo do estado do Amazonas, que almejava a construção de três municípios na região do Pari cachoeira, localidade de terras indígenas situadas no alto rio Tiquié
A inclinação de defesa à vida e valorização da cultura idígena desenvolvida pelo pajé ficou marcado tanto no imaginário indígena e em uma espécie de graal de lideranças indígenas.
Gabriel encontrou a escrita. Esta, em suas mãos, transfigura-se em mais um instrumento de auxílio em sua luta. O resgate da mitologia Tukano e Povos Tukanos: cultura, história e valores, são os títulos dos livros escritos por Gentil.
O conteúdo de ambos, mesmo com suas respectivas especificidades, fala, em linhas gerais, sobre a cosmovisão, mitologia, papéis sociais e dinâmica de vida social do povo Tukano.
A sua trajetória de escrita apanhou um vasto conhecimento nas rodas intelectuais brasileiras, e por meio da aproximação promovida pela comunicação dos senhores: Marcus Barros, Presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA); do historiador Ernesto Renan de Freitas Pinto e do padre do Centro de Estudo Documentação Etnográfica e Missionária (CEDEM), Casimiro Béksta, à apresentação formal do pajé Tukano à Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).
Este contato foi a mola propulsora para o merecido reconhecimento, que veio com a nomeação como pesquisador Honorário,também pela FIOCURUZ.
A iniciativa inédita foi aprovada com unanimidade pela comissão, fazendo assim o Pajé Tukano, Gabriel dos Santos Gentil, receber o aclamado título em 2004.
Neste mesmo ambiente, Gabriel desenvolveu pesquisa no Núcleo de Estudos Indígenas do Centro de Pesquisas Leônidas e Maria Deane (CPqLMD), com o objetivo de ampliar a ligação entre a pesquisa aplicada nas áreas de sociedade e biodiversidade.
Trajetórias como a de Gabriel mostram, sem sombra de dúvidas, que a vida, a cultura e a luta indígenas são pautas de extrema importância e que merecem atenção e respeito não só pelos indígenas, mas por toda a população em geral.
Gabriel Gentil, intelectual e (neo) xamã Tukano faleceu em 2005, em Manaus.