Álvaro Tukano, indígena da etnia Tukano, nasceu na aldeia São Francisco, hoje inexistente devido a questões e conflitos com missionários da região. Álvaro conta que com menos de 8 anos de idade foi levado ao colégio interno Dom Bosco, onde o temperamento e gritos do padre que encontrou lá “faziam encolher os nossos corações”. No segundo colégio que estudou, o Colégio Dom Pedro Massa, criou conexões que chama de “confusões boas” com outros alunos, e lá conheceu outros indígenas que falavam a língua Tukana.
Um pouco mais tarde na vida, Álvaro retornou ao seu povo e trabalhou como professor primário em Pari Cachoeira e Taracuá até o ano de 1975. Embora conte que a profissão de professor lhe fornecia status social, ela limitava suas práticas e seus pensamentos acerca de questões indígenas, sendo obrigado a servir um modelo mais religioso da igreja que não abrangia seus valores, conhecimentos e potencial de ensinamento: “discuti com as freiras e padres que nos subjugavam como seres superiores de tais colégios. Resmungar a qualquer superior da missão custava “atenção”, ser mais “Cristão” submisso às leis externas. Enfim, todos os meus ex-alunos tornaram-se, posteriormente, grandes líderes e que defendem as tradições indígenas”.
Álvaro, por um tempo, nutriu um desejo de cursar a faculdade de medicina, mas afirma que as situações que observou e o descaso com os povos indígenas roubou sua aspiração pelo curso. Ele possui um grande senso de respeito e entendimento por outros povos indígenas; conheceu situações tristes com outras etnias, como os Guajajara, e sempre teve como princípio observar as exigências específicas de cada povo, para que então fosse possível ter uma organização social e política de luta em conjunto: “tenho me dedicado ao Movimento Indígena a meu modo, […] mais da metade de minha vida passei pelas diversas tribos, aldeias e realizando grandes assembléias ou mesmo me encontrando com líderes importantes […] para nos ajudar nessa luta.”.
Mais tarde, Álvaro passou a atuar na cena literária. Em seu cargo de diretor do Memorial dos Povos Indígenas (MPI), ele lançou em 2018 o livro “O Mundo de Tukano Antes dos Brancos”, onde fala sobre sua perspectiva e interpretação de aspectos culturais dos Tukano, tendo em vista que nasceu e foi criado em comunidade com seu povo. O autor movimenta a cena literária, como diversos outros escritores indígenas, com o argumento de que as experiências escritas registram a memória dos movimentos dos povos indígenas, e apresenta uma face muitas vezes ignorada quando se fala sobre literatura contemporânea.
Além de sua obra publicada, o autor também escreveu cartas que manifestam as exigência dos povos indígenas com relação à demarcação, temas como saúde e educação, e a segurança e preservação da vida dos indígenas e do meio ambiente. Uma delas foi escrita em 1981 e endereçada a outras lideranças indígenas, onde fala sobre a demarcação das terras e afirma que “A terra é nossa e não podemos compra-la e nem vendê-la para outros que não conhecem o valor que ela tem para nós. Porque quem tem a sua terra e o povo dentro dela pode dizer que tem a AUTODETERMINAÇÃO, e sentir-se livre do outro”.
Ademais, escreveu outra carta em 1988 endereçada ao Administrador Regional da FUNAI Pedro Fernandes Machado. Nela os temas tratados refletem a urgência de seus pedidos por demarcação na primeira carta mencionada, visto que ele comenta a completa falta de respeito que os garimpeiros têm com a lei, ameaçando e invadindo terras indígenas. Por fim, além de ameaças de invasões e invasões efetivas, existe também o frequente problema de difamação que os indígenas sofrem na mídia e pelas falas de representantes políticos, racismo e falta de comunicação com o governo. Esses temas são tratados em sua carta escrita em 2013 junto a diversas outras lideranças indígenas reunidas em assembleia, em um movimento de união, conversa e escuta que é praticado por Álvaro Tukano.
Para saber mais sobre Álvaro Tukano, consulte:
https://www.seculosindigenasnobrasil.com/projeto/equipe
https://www.cultura.df.gov.br/diretor-do-mpi-alvaro-tukano-lanca-livro/