São Paulo,14 de janeiro de 1985

Da UNI para as Lideranças Indígenas

Prezados Srs Presidentes e Líderes das Organizações das Nações Indígenas de Taracuá, Pari Cachoeira, Iauareté e Içana – Alto Rio Negro – Am.

1-) José Antenor Medeiros – Taracuá
2-) Afonso Machado – Pari Cachoeira
3-) Domingos Sávio Falcão – Iauareté
4-) Capitão Geral de Içana… (a ser convidado).

            Preocupado com os fatos correntes em nossas terras – Alto Rio Negro – AM, onde concentram muitas nações indígenas e que não sendo engajadas na igualdade e no respeito diante dos invasores (empresas estatais e multinacionais, através de seus garimpeiros), pois, embora existam as leis como Nº6.0001 – Estatuto do Índio, a Convenção de 107 e mais a Declaração Universal de Direitos Humanos, ainda o índio não está respeitado.
            De passagem por Manaus, tenho conversado com Sr. Gabriel Gentil, pronto a ouvir sobre o garimpo e a reação das nações indígenas diante dos garimpeiros. Também falei com Padre Valdecir Vieira – Secretário de Administração da Congregação Salesiana, com Padre Valter Ivan, Inspetor da mesma congregação.
            Falamos sobre:
1-) TERRA, porque os garimpos das Serras de Traira e Tunui são exclusivamente das Nações Indígenas de todo Território do Alto Rio Negro. Sem dúvida, a presença de garimpeiros brancos na reserva, significa no mínimo, o saque de nosso outro e começo de proliferação de cachaça, de prostituição sobre as nossas filhas e de desestruturação das Nações Indígenas.
2-) ECONOMIA, se pensou de elevar maior discussão sobre a maneira de explorar o garimpo pensando no futuro das Nações Indígenas. Esse assunto está dependendo da conversa com representantes escolhidos nas últimas eleições, pois a UNI – União das Nações Indígenas, conforme a conversa, pode buscar uma assessoria junto com Coordenação Nacional dos Geólogos – CONAGE para instruir os nossos parentes e pedir a informação sobre a quantidade de ouro existente nas serras.
3-) A SAÚDE. porque é importante para bom andamento de trabalho e de organização. Como a FUNAI não tem condições financeiras, é necessário estudar alternativas próprias. A UNI estudará com os amigos do GTME – Grupo de Trabalho Missionário Evangélico, para ver se é possível encontrar o médico para Alto Rio Negro. Essa preocupação é fundamentada através de nossos parentes vindos a São Gabriel e Manaus quando não bem tratdos pela FUNAI. A CASA DO ÍNDIO de Manaus é um lugar triste, porque é suja e não higiene para hospedar os sã. os líderes e outros parentes. Precisamos conversar juntos e ouvir o que podem dizer os capitães dos povoados do Alto R Negro.
           A UNI celebrou o Congresso Indígena no Território Federal de Roraima nos dias 07. 08 e 09 de corrente. Nesse encontro estiveram mais de tuxauas representando uns 36 mil índios. Os índios Macuxi, Wapixana, Yanomami e Taurenpank discutiram com muita força sobre esses mesmos pontos. O encontro foi muito bom, porque a assessoria dos missionários Consolata foi excelente. A UNI enviará as cópias do cocumento assim que estiver pronto.
            Sabendo da última notícia vinda de Pari Cachoeira (10 de janeiro/85) fiquei preocupado, pois a carta endossa o conteúdo feito pelo presidente da organização – local. A carta fala da vinda de uma comissão de índios do Alto Rio Negro a Brasília. No dia 11 do corrente entrei em contato com Padre Inspetor e com Valdecir, para ver como é que se poderia receber uma Comissão em Manaus na ocasião de passagem para Brasília. Não pude ter a resposta, pois o tempo me foi impossível devido o compromisso meu em São Paulo. Por tanto, acho bom que a Comissão articule através da Rádiofonia.
            Quanto a passagem, a UNI vai encaminhar ofício ao CIMI e FUNAI e buscar outros caminhos com os companheiros solidários à Questão Indígena. Portanto, os melhores esclarecimentos serão feitos através do Gabriel Gentil – Vice-presidente da Organização de Pari Cachoeira que mora em Manaus por esses dias.
            De acordo com as reclamões vindas de Pari Cachoeira sobre o problema de transporte, eu entrei em contato com os amigos de uma agência internacional e farei o Projeto do mesmo para atender a todos capitães do Alto Rio Negro. Melhores esclarecimentos poderão ser dados através da Comissão.
            Para somar nossa força da UNIÃO DAS NAÇÕES INDÍGENAS, a UNI pensa desde já, fazer o maior encontro de índios na História de nossas Nações com todos povoados do Alto Rio Negro. A reunião será planejada junto com a Comissão que virá a Brasília, porém, embora ainda não definimos a data, só lhes adianto que será no mês de julho. A hospedagem será no colégio, porque será o tempo de férias dos alunos e teremos espaço livre.
            Na ocasião de vinda a Brasília, além de contatos com a FUNAI, a Comissão entrarám em contato com a OXFAM para fazer o Projeto de Encontro. Também será feito o encaminhamento de convites para Raoni (Xingu) e Saracura (Pataxó da Bahia) que são figuras mais importantes do movimento indígena o Brasil. Também daremos outros convites para federação Shuar, índios do Equador, para CEDI – Centro de Documentação – muito importante para organização indígena, para OXFAM e FUNAI, conforme o pensamento da Comissão.
            Também, para terminar, lhes envio, em anexo, uma carta dirigida a OXFAM.

Abraços fraternos da UNI.

Álvaro Fernandes Sampaio – Tukano.
Coordenador Nacional da UNI.

C/C para CIMI, UNI, CEDI, CTI e Inspetoria Salesiana.

Fonte: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/carta-convocando-lideres-das-nacoes-do-alto-rio-negro-para-reuniao-organizada

Original: 1985.01.14 Da UNI para as Lideranças Indígenas

 

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