Brasília – DF, 25 de outubro de 1988

De Álvaro Tukano para Secretário Geral do Conselho de Segurança Nacional

Exmo. Senhor
Gal. Rubens Bayma Dennys
D.D. Ministro do Gabinete Militar e
Secretário Geral do Conselho de Segurança Nacional

                            Em nome da minha Comunidade Indígena localizada na BR – 307, no Município de São Gabriel da Cachoeira – AM, por não concordar com o mapa apresentado pelo Conselho de Segurança Nacional, digo a V. Exa. que esta atitude desnorteia os propósitos da política na Faixa de Fronteira. A nossa área ficou reduzida demais e não corresponde com os lugares da caça e de pesca que ficaram fora.

                            A posição do Conselho de Segurança Nacional, só favoreceu os invasores e garimpeiros, vistos como problemas para nossa sociedade por razões abaixo expostas:

                            1º) Que o Sr. Valter Coimbra é comerciante e um dos maiores fazendeiros da região. Questionamos sobre as quatro fazendas (duas no Rio Miuá e duas no Rio Tukano) que estão dentro do Parque Nacional do Pico da Neblina e dentro da área do Balaio.

                                  Este fazendeiro sempre explorou os índios, e aqui ele continua usando a mão-de-obra barata dos Índios Baniwas e estando envolvido com os garimpeiros que abriram um aeroporto clandestino para trazer os garimpeiros de Roraima para invadir o Território Yanomami.

                            2º) Os demais peões que vivem no Porto do Iá-Mirim, dentro da área do Balaio, sempre fizeram o jogo duplo, e por diversas vezes, invadiram e levaram mais garimpeiros para Território Yanomami. Desta maneira, a situação de conflito em nossa área será inevitável, porque o Grupo de Trabalho não entendeu nada sobre o futuro de populações indígenas.

                            É necessário que o Conselho de Segurança Nacional corrigir o mapa e ter mais dados concretos para demarcação da área do Balaio que é de 156.000 ha, e não aceitamos o quadradinho traçado pelo Conselho de Segurança Nacional.

                            A proposta da Comunidade do Balaio é porque temos a responsabilidade de vigiar os limites e não vamos deixar entrar os garimpeiros para invadir os Yanomami.

                            Antes é necessário que o Conselho de Segurança Nacional e a Fundação Nacional do Índio busquem o mecanismo para assentar urgente os peões fora da área do Balaio, pois são famílias que merecem o amparo legal do Governo Brasileiro.

                            A Comunidade do Balaio sempre está ao lado do Governo e, por isso, apoiamos o Projeto Calha Norte. A nossa comunidade ainda não se esqueceu no caminhão F-20.000 de 14 toneladas que foi tratado nesse Gabinete Militar no dia 24 de abril no corrente ano. (*Ver carta em anexo, que foi encaminhada a FUNAI)

                            Em segundo lugar, a Associação da União da Comunidade Indígena do Rio Tiquié – UCIRT deseja saber de V. Exa. a data exata da visita de Sua Excelência, o Senhor Presidente da República, Doutor José Sarney. Esta Associação solicita de V. Exa. a maior compreensão para defender a Colônia Indígena de Pari-Cachoeira. Assim sendo, esperamos a visita do Senhor Presidente da República ainda esse ano, e juntos queremos comemorar a vitória.

                            A Associação da União da Comunidade Indígena do Rio Tiquié – UCIRT, Pari-Cachoeira, ainda, solicita do Governo Federal o apoio total para conseguir o terreno em Brasília – Distrito Federal, porque através do escritório próprio queremos conjugar força aos governantes para estudar e propor soluções para os nossos problemas indígenas em geral

                            No Alto Rio Negro, nós estamos levando a desvantagem na política, porque alguns missionários salesianos que seguem a linha do CIMI – Conselho Indigenista Missionário estão dividindo as nossas comunidades. Estes pregam contra as Colônias Indígenas e dizem que os projetos não serão aprovados. Sendo, portanto, difícil de rebater a crítica, porque os projetos de Taracuá, Iauareté e de São Joaquim até agora não foram aprovados.

                            É bom que V. Exa. pense bem nisso, porque estamos sendo muito pressionados e não temos condições de dar resposta ao povo enquanto os projetos não forem aprovados ainda nesse ano. Mas, temos esperança e força de vontade para superar essa dificuldade e, por isso, confiamos em V. Exa. para essa resposta seja dada diretamente pelo Governo Brasileiro para todas Colônias do Alto Rio Negro – AM.

                            A Administração Regional da FUNAI de São Gabriel da Cachoeira – AM, responsável e incansável para conduzir a política indigenista oficial está sem verba para atender as necessidades. Precisamos de Cento e Trinta e Três Milhões de cruzados, isto é, segundo os últimos contatos com este Gabinete Militar.

                            Concluo dizendo que, as questões Mineral, a Política do Governo na Faixa de Fronteira sempre serão bem apreciadas pela nossa coordenação. O Alto Rio Negro deseja sempre estreitar os laços de amizade sincera com o Conselho de Segurança Nacional e com todos os Ministérios de Brasília – DF.

                            Era o que tinha que apresentar a V. Exa.

 

  Álvaro Fernandes Sampaio
Relações Públicas da UCIRT
e em prol das Colônias Indígenas
do Alto Rio Negro

 

Fonte: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/carta-ao-gal-rubens-bayama-dennys

Original: 1988.10.25 De Álvaro Tukano para Secretário Geral do Conselho de Segurança Nacional

 

                                                              

 

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