Quem foi Antônio Felipe Camarão

Considerado um herói da Insurreição Pernambucana, Antônio Felipe Camarão foi um indígena Potiguar criado com a doutrina católica, por ter vivido em uma missão jesuíta. Nesse contexto, Antônio aprendeu o português e um pouco de latim, e vivia sua vida de acordo com seus valores e crenças católicas. Seu local de nascimento ainda é uma dúvida para historiadores, que parecem ter publicações divergentes sobre o lugar. O resto de sua família também se fez presente nas guerras holandesas, e obtiveram reconhecimento por suas participações nos conflitos, assim como o próprio Antônio Camarão. 

Antônio Felipe Camarão foi representado em imagens de diversas formas por diversos artistas diferentes, e observa-se que a maneira como ele foi representado, em muitas delas, era parte de uma estratégia de caracterização do indígena em seu “estado civilizado”, seguindo uma estética cristã de selvagem que foi “domesticado”, e portanto é apto a conviver com não indígenas e obter um certo nível de respeito. As imagens de Antônio contrastam com as imagens dos tapuias, por exemplo, que eram vistos como inimigos e portanto eram retratados de maneira selvagem e animalesca, desumanizando a própria existência dos indígenas. Sendo assim, a imagem servia de instrumento para justificação da escravização e assassinato de indígenas que eram considerados inimigos, e enaltecimento e senso de respeito por Antônio Camarão, por exemplo, ao retratar a figura do indígena “cristianizado” (FAGUNDES, 2016, p. 18).

Antônio, durante toda a sua trajetória de luta, se manteve fiel aos portugueses. Ele estava à frente das tropas indígenas na Guerra de Resistência, que durou entre 1630 e 1637, e também teve papel ativo durante a Restauração Pernambucana, que teve início em 1645 (p. 53). Ele possuia grande reconhecimento por sua atuação nos combates, até mesmo do rei Felipe IV da Espanha, que prometeu conceder mercês a Antônio, dentre elas. Camarão atuou nas guerras holandesas a partir de 1633, e entre 1645 e 1648 participou dos primeiros combates das guerras de restauração, contudo não sobreviveu para ver a vitória dos portugueses no combate, em 1654 (FAGUNDES, 2016, p. 59).

Antônio Felipe Camarão morreu em 1648, quando foi atingido por uma febre. Sua morte foi chocante para muitos que o respeitavam por sua imagem de herói, a exemplo de Filipe Bandeira de Melo, Tenente do mestre-de-campo Francisco Barreto,  que revela em uma carta ao rei que a morte de Antônio foi uma grande perda (FAGUNDES, 2016, p. 60). A trajetória de combate de Antônio Camarão ficaram marcadas na memória da Restauração Pernambucana, e o imaginário de herói que foi construído em cima de sua figura se deu por meio da criação de imagens, concepções e exaltação de feitos dele, e é base para o reconhecimento de sua pessoa como um retrato de “fidelidade, honra e bravura” (FAGUNDES, 2016, p.67).

Texto: Érica Damasceno

Referência: 

FAGUNDES, Igor. A história do índio Antônio Felipe (Poti) Camarão. Orientador: Profa. Dra. Larissa Viana. 2016. Dissertação (Mestrado Profissional em Ensino de História) – Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2016.