Brasília - Distrito Federal, 15 de julho de 1992

De Damião Paridzané para o Presidente da ENI

Prezado Sr. Cagliari,

Quando eu mandei entregar o wamãri – que para nós significa paz, fim da guerra, parece que o Sr. nada entendeu, porque agiu exatamente contrário.
Quando nós conversamos no Rio de Janeiro, no dia 10 de junho, na frente dos jornalistas estrangeiros, o Sr. não quis assinar nada e disse que não estava enganando os Xavante. Mas enganou. Quando nós pedimos para voltar para Suiá-Missu, la mesmo fizeram negociação com os fazendeiros vizinhos, com os políticos de São Félix e com o governador de Mato Grosso para invadir a fazenda e impedir o nosso retorno em paz.
Com todos da minha aldeia, estamos muito aborrecidos porque fomos enganados, porque a sua palavra foi mentira!
Agora a FUNAI encaminhou o documento para a sua empresa entregar a terra, mas queremos sem invasores. Senão vai ter guerra e a sua empresa será a responsável. O direito é nosso, a terra é nossa, é do Xavante!
Quando nós conversamos no Rio de Janeiro, também foi prometido o caminhão e assistência à saúde. Será que tudo é só promessa, só engano, só mentira ? Não era o que nos esperávamos!

Cacique DAMIAO PARIDZANÉ
Aldeia Água Branca

Fonte: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/carta-ao-presidente-da-eni

Original: 1992.07.15 De Damião Paridzané para o Presidente da ENI

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