À
AIMEX
Belém, Pará
Sr. Presidente,
As lideranças das Comunidades Indígenas Kayapó, vem através desta, representadas por seus Caciques e guerreiros assistentes, solicitar à V.Sa., à gentileza de esclarecer e nos ajudar a encontrar soluções para os para os problemas que nossas comunidades enfrentam tendo em vista que após procurar os madeireiros para negociar nossas madeiras não conseguimos fazer contratos, pois eles nos responderam que estão proibidos de comprar e exportar madeiras de áreas indígenas, e não souberam nos responder o porque da proibição.
Como já estivemos em Brasília – DF no mês de fevereiro deste ano à procura de soluções para as nossas comunidades e lá fomos recebidos por entidades governamentais e não governamentais e de uma maneira muito especial pelo Exmo. Sr. Presidente da República do Brasil Dr. Itamar Franco, que não sabendo de tal proibição, solicitou ao Sr. Ministro da Justiça Dr. Maurício Correia que providenciasse soluções para os nossos problemas e que se não resolvesse que voltássemos com ele novamente. Imediatamente, o Ministro comunicou ao órgão competente que providencie as medidas necessárias. Fomos para a FUNAI e lá estivemos em reuniões com vários órgãos do Governo e Entidades. Após vários debates o nosso Presidente da FUNAI Sidney Possuelo afirmou que infelizmente não recebia mais verbas suficientes para nos ajudar. E as coisas não ficarem bem claras. Foi então que o NDI prometeu nos trazer alternativas financeiras. Como o tempo está passando e o nosso povo sofre com muitos problemas de doenças, não estamos unis dispostos a esperar. Queremos negociar o que temos em nossas terras que por direito são nossas, pois somos os primeiros brasileiros e não podemos deixar o nosso povo morrer.
Em abril deste ano voltamos à Brasília e tivemos outras reuniões com o Presidente da FUNAI Sidney Possuelo, Cláudio Romero, representante do IBAMA e da Justiça que nos afirmou verbalmente que não via motivos para que parássemos de negociar nossas madeiras e continuar dando assistência às nossas comunidades, principalmente na área de saúde que é a mais grave de todas. Voltamos felizes para as nossas comunidades por saber que poderíamos trabalhar tranquilos, pois pensávamos estar tudo solucionado. Foi quando descobrimos que a proibição veio da AIMEX.
Senhor Presidente, queira nos esclarecer o porque de tal proibição; não podemos ser jogados de um lado para outro como se fossemos brinquedos de crianças. Exigimos que nos respeite e que nos ajude a encontrar soluções. Não queremos nada que é de ninguém, só queremos viver em paz, trabalhar, cuidar de nossas famílias e comunidades, que hoje estão desprezadas sem a menor assistência de saúde ou outra qualquer.
Atualmente várias entidades usam nossos nomes, nossa cultura e nossa imagem para se auto-promover. Não aceitamos mais isso, queremos viver em paz, por favor deixe-nos trabalhar. Queremos soluções imediatas para levar às nossas comunidades; iremos onde for preciso para conseguirmos o que desejamos que é apenas não ver nossos filhos morrerem.
Certos de sua providência imediata para o que lhe solicitamos em nossas justas reclamações, firmamo-nos muito
Atenciosamente,
A’kjabôr Kayapó
Kakai Kaiapó
Kuteê Kaiapó
João Kaiapó
Beptyk Kayapó
Original: 1993.05.17 Dos Kayapó para o Presidente