Da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (ARPINSUL) para os Guarani Kaiowá

Curitiba, 24 de outubro de 2012.  

Carta de apoio da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul aos Guarani-Kaiowá 

A Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul se manifesta publicamente em apoio  à reivindicação da comunidade Guarani-Kaiowá em relação a todo ato inconstitucional do atual governo em não respeitar os direitos já garantidos em lei para os povos  indígenas. Chegamos a um ponto onde os povos originários desse país tem que tomar  uma posição drástica para garantir as suas próprias terras.  

As mortes indígenas vêm ocorrendo há anos, porém, o estado brasileiro nunca  questionou e tampouco se manifestou sobre as mortes, sobre o genocídio que tem  ocorrido com os povos indígenas. Diante de todos estes fatos, é necessário que as  comunidades tenham que agir de forma drástica para que tanto o estado quanto a  sociedade brasileira se manifeste. Da mesma forma que todas as entidades, Ongs, e  órgãos indigenistas possam somar forças em solidariedade e apoio aos Guarani-Kaiowá.  

É necessário que o estado brasileiro propicie perspectivas positivas a favor da questão  fundiária, sobre a demarcação de terra e principalmente pela atual política brasileira. Afinal, os povos indígenas não estarão temerosos. Nós, não podemos ficar apenas no  discurso. Todos nós, indígenas, somos capazes da dar a vida pela nossa terra, temos que  fazer isso porque apenas assim nós vamos garantir o futuro dos nossos filhos.  

Nós da região sul somos radicais. Sempre vamos ser. Independentemente do que  acontecer. Não é apenas pelos Guarani-Kaiowá, mas pelos Guarani que vivem em  situações de dificuldade no Brasil e aos que vivem nos países vizinhos como Paraguai,  Argentina, Uruguai e Bolívia, onde estão criminalizados pelo estado e pelas políticas  desses países. 

O Brasil não deve vender uma imagem fictícia sobre a sua cultura brasileira indígena no  exterior, tampouco agir em caráter político dizendo que será a quinta potência mundial  sendo que ainda há indígenas que vivem em condições precárias e desumanas. Ninguém  no mundo é contrário ao desenvolvimento, mas dessa maneira que tem sido feita, nós  todos somos contra. Então, nós temos que ser radicais em determinados momentos. 

A sociedade precisa nos ver, nos respeitar e saber quem somos. Esse governo, não  apenas o federal, mas os dos estados são os principais inimigos nossos. Eles devem  começar a nos respeitar, porque nós somos os povos originários dessa terra. Porque uma  vez que o estado não nos respeita, não nos dá oportunidade, nós também não temos que  temer a morte pra que o mundo saiba o que o Brasil está fazendo.

Nosso espírito nunca morre, mas o nosso corpo sim. Nós morrermos não é sinônimo de que nós vamos parar, pelo contrário. Nós voltamos muito mais fortes. A gente não gostaria que chegasse a esse ponto em que os próprios povos indígenas tenham que ser  radicais dessa forma. Mas o discurso que a gente tem é verdadeiro e nós somos capazes  sim. 

Curitiba, 24 de outubro de 2012. 

ARPIN SUL 

Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul 

Av. Luiz Xavier, 68 – Edifício Galeria Tijucas, 11º andar, sala 1121 

Telefone: + 55 (41) 3092-4097

Fonte: https://cimi.org.br/2012/10/34158/

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