Coroa Vermelha, Santa Cruz Cabrália- BA – 10/09/2011

De Vilma Matos para os Educadores da Aldeia Coroa Vermelha

Olá parentes Tumbalalá, eu sou Vilma Matos, secretária da Escola Indígena Pataxó Coroa Vermelha, situada no Município de Santa Cruz Cabrália, na Aldeia Coroa Vermelha, Extremo-sul da Bahia.

Gostaria de partilhar com vocês educadores dessa aldeia, uma experiência que tive na minha escola, na época do estágio do Magistério Indígena, cuja turma iniciou em 2006 e terminou em maio de 2011.

Trabalho há onze anos nessa instituição na função de secretária, na época que ingressei nessa escola , tinha apenas o Ensino Médio completo, hoje tenho o Magistério Indígena e em agosto, desse ano conclui o curso de Pedagogia na Universidade Luterana do Brasil- ULBRA e atualmente estou cursando a Licenciatura Intercultural Indígena- LINTER no Instituto Federal da Bahia- IFBA em Porto Seguro.

O tema do meu TCC- Trabalho de Conclusão de Curso foi a “Dificuldade de aprendizagem na literatura e na escrita”. Escolhi esse tema por perceber que muitos alunos nessa escola vinham sendo evadidos e conservados durante alguns alunos letivos consecutivos e eu enquanto secretária, que nunca estive em sala de aula, não conseguia entender o porque desse problema, por isso, encarei o desafio de pesquisar alguns desses alunos, já que eram muitos. Escolhi  uma turma de Projeto do Programa “Se Liga”, que são alunos do  2 ao 5 ano, ou seja,  1 a 4 série, do Ensino Fundamental, que precisam ser alfabetizados.

Desenvolvi o meu trabalho através de entrevistas com os alunos, pais, professores e acompanhamento em sala de aula, desenvolvendo atividades com eles. Foram três meses de estágio e durante esse período, depois de várias observações, pude perceber que aqueles alunos vinham de famílias desestruturadas, muitos não tinham acompanhamento dos pais nas atividades escolares; precisavam trabalhar para ajudar a família e por isso, não tinham tempo para se dedicar aos estudos; alguns sofriam maus tratos em casa, ou seja, todos eles estavam com baixa alto-estima, acreditando que nunca iam aprender ler e escrever.

Então, depois de detectar os problemas, comecei desenvolver, juntamente, com os professores da turma, atividades mais dinâmicas, através de jogos e brincadeiras, passeios na Reserva Pataxó da Jaqueira, visitas ao viveiro, comemorar datas de aniversário, palestras em sala de aula com outros professores, uso mais freqüente dos recursos naturais e materiais usados no cotidiano dos alunos, vídeos, ou seja, aulas que chamassem mais a atenção dos alunos, fazendo com que participassem das aulas com mais entusiasmo.

Apesar de pouco tempo de estágio, percebi que algumas mudanças nas nossas práticas pedagógicas podem ajudar muito no aprendizado dos alunos, principalmente, o professor acreditar que o aluno é capaz e ajudá-lo a vencer as barreiras que o impedem de caminhar. A família também tem um papel muitíssimo importante na vida escolar de seus filhos.

Tenho certeza que essa situação não é só a minha escola que enfrenta por isso. Espero que essas sugestões ajudem os educadores dessa aldeia trabalhar com os alunos que tiverem passando por esse mesmo problema.

Awery- Obrigado.

Vilma Matos S. Santos – Pataxó

Fonte: arquivo pessoal do pesquisador Rafael Xucuru-Kariri

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