06 de agosto de 2008.

Da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB) para eleitores indígenas

 

Carta de reflexão para eleitores indígenas

 

De acordo com o Censo 2000, 734 mil pessoas (0,4% dos brasileiros) se auto-identificaram como indígenas no Brasil. Um crescimento absoluto de 440 mil indivíduos em relação ao censo de 1991, quando 294 mil pessoas (0,2% dos brasileiros) se diziam indígenas. No entanto, quando olhamos para nossos governantes, não conseguimos enxergar a presença indígena. A existência de políticos que pertençam aos mais de 200 povos indígenas brasileiros é exceção.

 

Precisamos desepertar para esta realidade. Muito conseguimos conquistar por meio da nossa luta. Para avançarmos ainda mais, é necessário elegermos lideranças comprometidas com nossas bandeiras de luta, que conheçam a realidade dos nossos povos, por fazerem parte deste contexto, e sentirem na pele as limitações, os preconceitos e as injustiças cometidas contra nossos povos, ao longo dos mais de 500 anos de história de ocupação não indígena no Brasil.

 

Cada eleitor indígena tem a oportunidade de escolher e votar em candidatos que realmente fortalecerão projetos voltados para nossos povos. Pois, muitos políticos não-indígenas esquecem desta parcela da população após serem eleitos. Tradicionalmente, utilizamos tacapes e flechas como armas contra nossos inimigos. Atualmente, o voto representa uma importante arma que se bem utilizada poderá mudar nossa história.

 

Na política brasileira, o único indígena que se destacou foi Mário Juruna, primeiro deputado federal ligado a etnia indígena do Brasil. Ele nasceu em uma aldeia Xavante São Marcos, na Terra Indígena São Marcos (MT). Liderou a comunidade da aldeia Namunkura. Mesmo sendo da etnia Xavante, e com pouco conhecimento da civilização, foi eleito pelo Estado do Rio de Janeiro, e lutou indiscriminadamente por todos os povos.

 

Nós, indígenas, não nos consideramos melhores que os não-indígenas, mas queremos ver nossos direitos respeitados. Somos solidários a luta de todos aqueles que são desfavorecidos no nosso país. Conquistar melhorias nas condições de vida para nossos povos é uma forma de construirmos uma sociedade mais justa, com direitos igualitários para todos e todas. É nesta sociedade que acreditamos, e por ela, lutamos.

 

Temos conseguido formar jovens lideranças, advogados, sociólogos, jornalistas e doutores, mas somos omissos quando o assunto é ocupar a liderança política do país nas funções de vereadores, prefeitos, governadores, deputados e senadores. Que possamos nos unir em favor da causa indígena! Está em nossas mãos mudar esta história e ocupar o lugar que nos pertence no país do qual somos os primeiros habitantes.

 

Coordenação Executiva COIAB.

 

Fonte: https://pib.socioambiental.org/en/Not%C3%ADcias?id=59177

 

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