Primeiramente, a sensação que sinto é de dever e missão cumprida, sensação refletida ao sentimento de gratidão a todos (as) que contribuíram de forma direta e indireta, na conclusão do Curso de Comunicação Social – Habilitação em Jornalismo da Universidade Federal de Roraima (UFRR). O Curso que ingressei no segundo semestre do ano de 2010 por meio do Processo Seletivo Específico para Indígenas (PSEI) e hoje, saindo como a primeira estudante indígena a concluir a graduação nessa modalidade no Curso.
Uma conclusão que se consolidou nesta quarta-feira, 6 de abril, com a defesa do meu Trabalho de Conclusão de Curso(TCC) realizada no Centro de Comunicação Letras e Artes Visuais da UFRR(CCLA), onde obtive nota máxima, 10, pela relevância e contexto do trabalho. A excelência do resultado também é coletivo, pois tive a contribuição de profissionais que atuaram no setor de comunicação, André Vasconcelos e Jessé Souza, principalmente, de lideranças indígenas como Clóvis Ambrósio(Wapichana), o líder e coordenador do CIR, Mario Nicacio, o chargista do “Informativo Anna Yekaré” Bartô Macuxi e a professora de Língua Materna, Nilzimara Silva, que traduziu o resumo do trabalho na língua Wapichana.
O trabalho tem como tema “As estratégias de Comunicação e o Protagonismo Indígena: Um estudo de caso no Conselho Indígena de Roraima”, tema que ainda passará por adequações de acordo com as contribuições da banca composta pelos professores doutores, Maria Goretti Leite de Lima e Vilso Junior Chierentin Santi e sob a orientação da professora doutora Vângela Maria Isidoro de Moraes. A entrega da copia definitiva do TCC está marcado para o próximo dia 16/04.
Esse momento que considero sendo mais um momento histórico e de conquista coletiva, onde todos nós, indígenas, mais uma vez reafirmamos a nossa origem, identidade, sobretudo, fazemos a sociedade e o Estado brasileiro refletirem a que tanto nos devem: respeito, reconhecimento e valorização da nossa diversidade cultural indígena em Roraima e no Brasil.
Trouxe nesta iniciativa três capítulos, a dinâmica das lutas indígenas: processos de exclusão e de afirmação étnica; o Conselho Indígena de Roraima: ícone de organização e visibilidade indígena em Roraima; e as estratégias de comunicação do CIR: produtos, limites e possibilidades.
Nesses três campos refleti o processo de afirmação étnica a partir do conceito de ser “índio”, em seguida o processo de luta indígena em Roraima que resultou na criação da organização indígena pioneira em Roraima (CIR), e o terceiro, como instrumento de fortalecimento e visibilidade indígena, a produção midiática do CIR por meios dos produtos, informativos, programa radiofônico ” A Voz dos Povos Indígenas” na emissora de Rádio FM Monte Roraima e o site. Produtos que somam a conquista, mas que precisam ser aprimorados, um desafio que já faz do cotidiano.
A partir da questão abordada no estudo “em que medidas as estratégias de comunicação do CIR contribuíram para o processo de valorização da identidade indígena em Roraima” reflito que nunca é demais reafirmamos a nossa identidade indígena, quando temos uma sociedade, sobretudo, Universidades, que nos excluem e discriminam, por isso buscamos nessa iniciativa através da formação de jornalistas indígenas construirmos, ao menos, tentarmos novos olhares ao que nós somos, temos e queremos.
O CIR com toda história de luta pela terra, saúde e educação, sustentabilidade, também é pioneira no campo da comunicação, tendo na bagagem muitos resultados de conquistas com a atuação de jornalistas profissionais não indígenas que atuaram com coragem e compromisso por longos anos na organização indígena.
No entanto, o cenário é novo, quando o protagonismo indígena ocupa o espaço nacional e internacional. O CIR, assim como, demais organizações indígenas em outras regiões do Brasil dão oportunidades e investem no campo da comunicação indígena.
Diante dessas breves considerações, venho prestar os meus agradecimentos a essa organização indígena de renome local, nacional e internacional pela oportunidade que tive ao longo desses sete anos, ingressando em 2005 até 2008, retornando em 2013 e até hoje, períodos que foram fundamentais para a minha identificação e busca pela formação superior nessa área.
Ciente do desafio aproveito para compartilhar e ao mesmo tempo, convidar os demais comunicadores, jornalistas indígenas a somarem conosco no sentido de estarmos vigilantes a todo e qualquer ato que venha nos afetar e massacrar novamente, da mesma forma como fizeram com os nossos ancestrais. Dizer também que, pensar a comunicação é pensar como estratégia de mudança, transformação e construção social.
Por fim, gratidão direta aos coordenadores gerais do CIR, Mario Nicacio, Ivaldo André, Telma Marques, aos coordenadores de Departamentos, Sineia Bezerra do Vale (Ambiental e Territorial), Joênia Wapichana (Jurídico), Paulo Daniel (Projetos) e toda equipe da organização, assim como, as organizações indígenas, entidades sociais e os parceiros institucionais, que tanto acreditam no potencial indígena e neste caso, na comunicação indígena.
A Colação de Grau está marcada para o mês de maio, ocasião em que de fato e de direito me tornarei jornalista, mas desde já, celebramos essa conquista coletiva e pela feliz coincidência, a partir hoje, começo a celebrar também essa data, 7 de abril – Dia do Jornalista.
Sei que tenho muito o que aprender ainda, por isso conto com a colaboração de todos(as) nessa nova jornada.
Kaimen Manawyn. Obrigada!
Mayra Wapichana