Brasília, 13 de agosto de 1991

Do Povo Tapirapé para o presidente da FUNAI

Sydney Possuelo

D.D Presidente da FUNAI

Brasília – DF       

             Senhor presidente,

             Eu José Pio, cacique dos Tapirapé, juntamente com os índios que me acompanharam a Brasília, assinamos este documento em nome de todo o povo Tapirapé, pedindo ao Sr. que mande reestudar a área Tapirapé com vista à delimitação e demarcação de área denominada Urubu Branco, de posse tradicional dos Tapirapés.
             1º Urubu Branco é área habitada tradicionalmente pelos Tapirapé e lá se encontram sepultados seus antepassados, segundo consta no Relatório de Reestudo e Definição da Área do PI Tapirapé conforme Portaria 841/E de 30/09/1980, elaborado pela antropóloga Maria Auxiliadora Cruz de Sá Leão.
             2º Em Urubu-Branco situava-se a aldeia Tampiitawa, como se pode ver nos mapas anexos.
             3º Nessa local, “Em julho de 1914, os dominicanos franceses Domingos Carrerot, Sebastião Thomas e Francisco Bigorre, visitaram a aldeia Tapirapé situada a cinqüenta quilômetros do Rio”, Hebert Baldus – Tapirapé – Tribo Tupi do Brasil Central 1970, pág. 47
             4º Essa aldeia era exatamente a Tampiitawa conforme atesta Charles Wagley: “O primeiro registro explícito de uma visita não indígena a uma aldeia Tapirapé data de 1911. Naquele ano, um grupo de cearenses liderados por Alfredo Olímpio de Oliveira, subiu ao rio Tapirapé e andou 40 a 50 quilômetros de savanas em direção à floresta. Foi bem recebido em Tampiitawa.” Lágrimas de Boas Vindas – 1988. pág. 57
             5º “Poucas semanas depois de nossa última visita (em 1947) os Kayapó atacaram Tampiitawa”. Baldus o.o. pág. 59
             6º “As doenças e os brancos constituiram problemas aos Tapirapé. … A última grande aldeia foi quase extinta exatamente pelo grupo Kaypó … o ataque dos Kayapó aos Tapirapé data de 1947. A redução e conseqüente desestruturação do grupo, levou a uma redução do território efetivamente ocupado. Apesar destes fatos, os Tapirapé continuam fazendo incursões anuais a Urubu-Branco, mantendo um elo mágico de culto aos mortos:

o território ocupado pelos Tapirapé nunca foi de fato abandonado … em caçadas periódicas caminhavam por todo a área… A ocupação gradativa da região por mebros da sociedade envolvente, os desmatamentos constantes feitos pelas fazendas, conduziu os Tapirapé a reivindicarem a área estritamente necessária para sobrevivência do grupo… A falta de matéria prima brutal ou artesanal, a redução da caça, atividade produtiva tradicional… Se hoje este fato não constituem problemas, não podemos deixar de levá-lo em conta pelas consequências futuras.” (Relatório da Antropóloga Maria Auxiliadora C. De Sá Leão ).

             7º Cada vez mais os Tapirapé vêm sentindo essas consequências:

 

             a – a população da aldeia cresceu 400%

             b – na mesma área habitam os Karajá, também em aumento

             c – 2/3 da área alagadiço, impróprio para a agricultura

             d – as visitas à área Urub-Branco estão sogrendo restrições por parte dos que a invadiram, e poderá ocorrer um        choque, caso não reconheça o direito dos Tapirapé àquela área

             e – consta que os invasores estão tentando lotear a área

             f – a atual área é “insuficiente para nossa sobrevivência”

             Por todas estas razões pedimos uma tomada de posição com máximo de urgência por parte do órgão de assistência.

Assinam abaixo.

 

Fonte: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/carta-ao-presidente-da-funai-pedindo-reestudo-da-area-tapirape-com-vista

Original: 1991.08.13 Do povo Tapirapé para o presidente da FUNAI

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