A Presidente da FUNAI

Srª Marta Maria do Amaral Azevedo

Assunto: encaminhamento de proposta dos estudantes indígenas da Universidade Federal da Bahia.

Ao cumprimenta-la cordialmente, nós estudantes indígenas da Universidade Federal da Bahia, expomos nossa situação e ao fim solicitamos o que segue:

Nós formamos um grupo de estudantes indígenas, residindo e estudando em Salvador-Bahia. Estamos matriculados nos seguintes cursos: Ciências Sociais, Medicina, Direito, enfermagem, Economia e Música.

Desde a entrada das primeiras estudantes nesta universidade em 2005, temos lutado para a criação de uma política de amparo aos estudantes indígenas ingressantes nesta instituição. Junto à universidade, a FUNAI, e também ao MEC, sem, no entanto, obter garantias de nenhuma das instituições.

A nossa situação mesmo os que recebem assistência, é de insegurança e de vulnerabilidade, pois, além de termos que arcar com o custeio de aluguel, passagem de ônibus, alimentação e outros elementos básicos para a nossa manutenção na cidade de Salvador, temos despesas com os materiais e livros necessários para permanência nos nossos respectivos cursos. Esses materiais, em sua maioria, são caros, como: livros, cópias, materiais para realização de pesquisas e materiais específicos de cada curso, elementos dispendiosos para a realização dos trabalhos acadêmicos. Se um de nós adoecermos, fica difícil até para comprar os remédios.

Ao sairmos de nossas comunidades de origem, acreditamos que nos formaremos e retornaremos para as aldeias indígenas, onde pretendemos desempenhar nossa profissão junto as nossas comunidades. A nossa vida aqui na Capital é de muita privação e insegurança.

Depois de explicitada a situação vivenciada por nós, estudantes indígenas da UFBA, passamos a fazer algumas solicitações de providencias, diante dos descasos das autoridades competentes responsáveis pela implementação das políticas que efetiva os processos educativos dos Povos Indígenas na Bahia, dentre estas, o ensino superior.

• Criar, implementar e efetivar Políticas Públicas de ingresso e permanência de indígenas nas Universidades Públicas, com instrumentos a longo prazo, prevendo o ingresso e permanência de indígenas a cada vestibular;
• Criar incentivos nos Núcleos de Pesquisas da Universidade, que possibilite aos estudantes indígenas, fazer pesquisas nos Territórios Indígenas, oportunizando a convivência dos estudantes com as comunidades indígenas, interagindo os conhecimentos científicos acadêmicos com os conhecimentos tradicionais, conforme interesses de cada povo ou comunidade.
• Resolver com agilidade as questões relacionadas aos estudantes indígenas matriculados na Universidade Federal da Bahia, e efetivar o Convenio entre a UFBA/MEC e FUNAI. Existe um jogo de empurra entre A UFBA / FUNAI e MEC. Esse Convênio se encontra a mais de três anos na FUNAI.
• É urgente a definição de uma Política de permanência para os que já estão matriculados e para os que vão se ingressar. Hoje o difícil não é ingressar, mas ter apoio financeiro e suporte técnico pedagógico para concluirmos os cursos. Tanto o MEC quanto a FUNAI ignora a nossa existência quatro estudantes.

Além disso, os estudantes indígenas sofrem com os atrasos dos auxílios financeiros concedidos pela FUNAI, que chegam há quatro meses.

Atenciosamente,

Estudantes Indígenas da UFBA:

Genilson dos Santos – Pataxó
Rutian do Rosário Santos – Pataxó
Sirlene Cau Lopes – Pataxó
Maria Kiara do Nascimento Oliveira – Pankararu
Ariádila Santos de Queiroz Silva – Pataxó
Pedro Wilton do Nascimento Oliveira – Pankararu
João Paulo do Nascimento Oliveira – Pankararu
Juliana do Rosário Santos – Pataxó
Iara Brandão – Pataxó
Adenilton de Oliveira Santos – Coordenador Geral do MUPOIBA

 Fonte: Arquivo pessoal do pesquisador Rafael Xucuru-Kariri

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