Ilmo Sr. Presidente da Funai,
Sr. Franklimberg de Freitas
Nós, povo Munduruku, que estamos ocupando o canteiro de obras da Usina Hidrelétrica de São Manoel, só deixaremos o local mediante o cumprimento das seguintes condições:
- Exigimos imediatamente a publicação da Portaria Declaratória de Sawre Muybu e da TI |Apiaká do Pontal dos Isolados e a conclusão e a publicação dos relatórios circunstanciados de identificação e delimitação das TI Sawre Jaybu e Sawre Apompu até outubro de 2017.
- Queremos que a FUNAI emita um parecer desfavorável à Licença de Operação da Usina Hidrelétrica São Manoel, considerando os impactos causados em nossos rios e nossos povos e que os estudos aprofundados sobre os impactos sejam feitos com imparcialidade e acompanhamento das comunidades. Segue em anexo o dossiê sobre os impactos causados pelas usinas no rio Teles Pires.
- A exoneração imediata do chefe de serviço de planejamento e orçamento da CR da FUNAI, Sr. Raulien Queiroz de Oliveira e o retorno ao cargo do servidor Ivanildo Saw Munduruku.
- Queremos visitar as urnas funerárias, que foram roubadas pelas usinas hidrelétricas, no local onde elas estiverem. Até hoje a empresa não informou o local exato de nossas urnas;
- Após a visita queremos que as urnas roubadas sejam levadas para uma terra que nenhum Pariwat (BRANCO) tenha acesso. Essa devolução das urnas tem que ser acompanhada pelos Pajés.
- Queremos que a empresa realize uma audiência pública na aldeia Missão Cururu para dar esclarecimentos sobre os impactos causados e fazer um pedido formal de desculpas ao povo Munduruku pelas destruições dos lugares sagrados;
- Pressionar junto ao Ministério Público Federal para que o delegado da Polícia Federal que assassinou o parente Adenilson Kirixi Munduruku, em 2012 durante a operação “Eldorado”, seja condenado e que o processo de indenização pelos danos causados ao nosso povo pela operação “Eldorado” seja julgado o mais rápido possível.
– Se as demandas a seguir não forem encaminhadas e/ou cumpridas até dezembro de 2017, voltaremos a ocupar o canteiro de obras:
- Exigimos que as empresas responsáveis pelas usinas hidrelétricas respeitem nossos direitos e criem um “Fundo Munduruku” com recursos para serem administrados e aplicados por nós Munduruku nos seguintes pontos:
– na construção da nossa universidade indígena – no apoio aos nossos parentes e sem interferência das hidrelétricas
– na proteção dos nossos lugares sagrados
– na preservação da nossa cultura e historia
- Exigimos que o governo realize a consulta livre, prévia e informada, de acordo com o protocolo Munduruku, para construção de qualquer obra do governo que nos impacta direta ou indiretamente;
- Criação do museu do povo Munduruku, na aldeia Teles Pires, com nome do parente Adenilson Krixi Munduruku, assassinado em novembro de 2012 pela Polícia Federal durante a Operação Eldorado.
- Criação do museu do povo Munduruku na sede do município de Jacareacanga, com os nomes dos locais sagrados, karobixexe e Dekuka’a, que foram destruídos pelas usinas hidrelétricas de Teles Pires e São Manoel.
- Exigimos que as empresas responsáveis pelas usinas hidrelétricas de São Manoel e Teles Pires atendam as demandas e reivindicações das comunidades indígenas do Teles Pires, que constam no PBAI, com eficiência e qualidade
- Queremos a construção de uma Casa de Transito, em Jacareacanga, equipada para dar apoio aos indígenas com capacidade para atender as demandas do povo Munduruku, independente do PBAI;
- Garantir a compra de um ônibus grande e um caminhão com capacidade de 20 toneladas para transporte dos indígenas de Jacareacanga/Ramal, independentemente do programa PBAI;
- Queremos também que a FUNAI apoie com recursos a realização do I Encontro Ibaorebu na aldeia Sai-Cinza entre os dias 17 e 18 de setembro de 2017, com a participação dos técnicos da CGPC da FUNAI Brasília, responsáveis pelo projeto: Isabel Gobbi e André Ramos. E garantir recursos para apoiar a continuidade do projeto Ibaorebu do ensino médio integrado Munduruku com abertura de novas turmas.
- Retomar o projeto, que está parado, de construção das duas escolas do ensino médio do projeto Ibaorebu nas aldeias Sai-Cinza e Missão São Francisco do rio Cururu. Viabilizar o transporte fluvial e terrestre para o apoio no deslocamento dos alunos do projeto.
- Garantir a criação da Universidade Intercultural Ibaorebu.
- Solicitamos a construção de uma nova sede na FUNAI Velha, no município de Itaituba, e o fortalecimento da sede atual com alimentação, a contratação de uma pessoa de serviços gerais e transporte para os indígenas do alto e médio Tapajós.
- Exigimos que o governo pare a construção de novas Usinas Hidrelétricas na Amazônia. Chega!!
SAWE!!
POVO MUNDURUKU
Fonte: Carta da ocupação da usina São Manoel ao presidente da FUNAI.pdf – Google Drive