Caro leitor,
após abordar enfaticamente neste espaço a inércia das políticas públicas, descrevendo as mazelas a que estão submetidas nossas minúsculas aldeias, descrevendo as desgraças dos povos indígenas que sofrem à mercê de toda sorte de infortúnio dos (des) governos, falo hoje de algo bom que acontece a nós, povos indígenas de Dourados e região desde 1928, que tem se revelado ao longo dos anos, a verdadeira salvação dos índios é a Missão Caiuá.
No início do século XX, mais precisamente, na segunda metade da década de 20, chega em Dourados, ainda uma vila, o Rev. Albert Maxwell, trazido por Rondon, nesta época a companhia Mate Laranjeira atuava na região, explorando a erva-mate, Os ervateiros dominavam toda a região e começava a se tornar difícil para um grupo indígena manter-se à margem, conservando a vida tribal. Maxwell vai até São Paulo e através do apoio da Comissão Brasileira de Cooperação das Igrejas Evangélicas, em 28 de agosto de 1928, organiza a Associação Evangélica de Catequese dos Índios, os primeiros missionários fixaram residência na vila, onde mais tarde seria criada a cidade de Dourados, realizando ali o primeiro culto no dia 15 de abril de 1929, com a presença deles e mais três pessoas da comunidade. Com a ajuda das Igrejas que os enviou, compraram terras ao lado da aldeia. A primeira escola indígena da região era chamada de “Escola Diária”. Por volta de 1938, uma epidemia de febre amarela acometeu a aldeia, matando vários índios adultos. As crianças órfãs eram levadas pelo “Serviço de Proteção aos Índios” (SPI) para a Missão, nasce aí o primeiro orfanato indígena o “NHANDEROGA”. Em 1943, o casal, Rev. Orlando Andrade e D. Lóide Bonfim, trouxeram para cá em 1945, a professora Maria Luiza Rodrigues que exerceu cargo de professora e diretora da escola primária, criando assim a primeira escola bilíngüe indígena. A Missão sempre esteve preocupada em oferecer uma educação diferenciada para o índio. Em abril de 1962, inicia trabalho nas aldeias do sul do Estado. Rev. Saulo em Taquapiry, Rev. Daniel em Caarapó, Rev. Rubens e Rev. Troquez em Porto Lindo.
Em 1º março de 1963, inaugurou-se o “Hospital e Maternidade Indígena Porta da Esperança”, com 38 leitos, hoje ampliado para 50 leitos e com a finalidade específica de atender exclusivamente a população indígena. Em 1972, foi realizado curso de atendente para 45 índios, e 3 unidades da FUNAI, das aldeias dos Carajás, Tapirapés, Apinagés, Javaés, Tuxás, Mutinas, Kaiwás, Terenas e Guaranis. Foi inaugurado também neste ano a “TB” (Unidade de Luta contra a Tuberculose) com 50 leitos. construído através de doações das Igrejas da Holanda e 25% cooperação da Secretaria do Estado de Mato Grosso do Sul.
Em 1980, é implantada a 5ª série na escola e através do decreto Municipal nº 002 de 24/01/80 é criada a “Escola Municipal de 1º grau Francisco Meireles”.
Em 1984 assume Rev. Beijamim Benedito Bernardes, diretor de Campo da Missão e Rev. Benedito Troquez, vice-diretor, neste mesmo ano, recebe o atestado de filantropia, Municipal, Estadual e Federal. No hospital doente tem o serviço de atendimento médico, odontológico, laboratorial, raios-X, ultra-sonografia e até os remédios de graça.
A Missão Caiuá atua com sede em Dourados, sete campos avançados ao lado das aldeias de Caarapó, Amambai, Taquapiry, Sassoró, Porto Lindo, Gwassuty e Campestre e nas aldeias de Jacaré, Limão Verde, Kokwe’y, Panambi e Sucury.
É esta MISSÃO, que muitas vezes os críticos que servem à “industria” do índio… Aqueles que apostam no quanto pior melhor, querem jogar no balaio com as ongs que usam o nome do índio para promoção própria. A MISSÂO CAIUÁ, por ter o know how no trabalho com os nossos povos, mantém convênio com a FUNASA, mas a Missão administrou recursos para aquisição de bens e material ate 2003, o relatório de auditoria interna da FUNASA, no item 4.1 concluiu: “De todo o exposto concluímos que a Missão Caiuá vem desenvolvendo suas atividades conforme o aprovado no Plano de Trabalho, aplicando os recursos a ela destinados com a contratação de pessoal, encargos sociais e prestação de serviços, pessoa física e jurídica, não constatando-se improbidades/inrregularidades que merecem ser destacadas”. Por todo seu trabalho realizado em prol das povos indígenas, a Missão Evangélica Caiuá tem o aval e o respeito do nosso COMITÊ
Wilson Matos da Silva*
* Índio residente na Aldeia Jaguapiru; Advogado; pós-graduado em Direito Constitucional; Presidente do Comitê de Defesa dos Direitos dos Povos indígenas do MS; conselheiro Federal do IMBRAPI com sede Brasília.
Fonte: https://www.douradosagora.com.br/