Aldeia Serra do Padeiro, 05 de Junho de 2016.

Da Juventude Tupinambá para o Brasil

CARTA FINAL DO PRÉ ENCONTRO DA JUVENTUDE TUPINAMBÁ

Nós somos jovens guerreiros

E por nossa terra vamos lutar,

Espalhar nossas sementes

Nossa aldeia germinar.

Nós, cerca de cem jovens, das comunidades do Acuípe, Itapoã, Mamão, Olhos D’água, Olivença, Parque de Olivença, Serra do Padeiro, Tamandaré e Tucum, situadas na Terra Indígena Tupinambá de Olivença, reunidos na Aldeia Serra do Padeiro, entre os dias 3 e 5 de junho, expressamos neste documento nossos sonhos, desafios e responsabilidades. Hoje, nosso maior sonho é a demarcação de nossa terra, processo que já se arrasta há 12 anos, contrariando todos os prazos legais. Neste cenário, precisamos manter os jovens tupinambá organizados, unidos para a luta. Queremos debater política cada vez mais e manter vivos os grupos de jovens que existem em nosso território.

Desejamos o fim das rivalidades entre as nossas comunidades e a união dos povos indígenas do Brasil, para a melhoria de nossas vidas. Sonhamos com o fim do preconceito contra os povos indígenas.

Nosso sonho é permanecer sempre na cultura indígena, valorizando-a cada vez mais, respeitando uns aos outros e trabalhando em torno de um só objetivo. Precisamos resgatar as histórias antigas, junto aos mais velhos, e buscar a nossa religiosidade, considerando o fundamento específico dos nossos rituais. Lutaremos para ver a natureza respeitada e conservada. Exigimos ter acesso à saúde e educação de qualidade. Demandamos também investimentos no esporte, considerando as especificidades dos povos indígenas. Sonhamos, ainda, em ver a cultura nos livros didáticos contada por nós mesmos e com a criação de uma universidade indígena.

Para conquistar nossos sonhos, precisamos enfrentar grandes desafios. É fundamental trazermos os jovens para a luta, inclusive aqueles que estão afastados do movimento, garantindo sua autonomia, dentro e fora de suas comunidades. Para superar nossos inimigos, necessitamos de mais exemplos de luta. Nossos jovens têm que estar preparados para guerrear, atentos e concentrados. É fundamental que participemos dos eventos que acontecem em nossas comunidades. Precisamos garantir que os jovens estejam preparados para resistir se sofrermos ataques – como vem acontecendo, com tantas ações de reintegração de posse –, ajudando uns aos outros. Precisamos manter a cultura sempre viva e manter os encantados entre nós. É fundamental despertar o desejo dos jovens por participar de nossos rituais.

Derrubar a PEC 215 e barrar outros ataques contra os povos indígenas, no Executivo, Legislativo e Judiciário, é urgente. Precisamos organizar encontros com os pesquisadores indígenas e não indígenas que estudaram ou estudam junto ao nosso povo, para que dividam seus conhecimentos conosco. Entender melhor nossos inimigos é fundamental, para que possamos nos defender melhor. Temos que enfrentar o desmatamento, os areais e a falta de água, para que as matas nativas fiquem limpas e conservadas. É urgente combater o preconceito e pôr fim às humilhações e à desconfiança em torno dos povos indígenas.

Precisamos combater as drogas em nossas comunidades, inclusive o consumo excessivo de álcool. É preciso também evitar os efeitos negativos das tecnologias, utilizando-as para potencializar a luta. Além disso, precisamos melhorar o transporte, para que possamos deslocar mais jovens para as atividades, dentro e fora do território. É necessário, ainda, construir uma escola indígena diferenciada de fato e trabalhar para a reconstrução e aprendizado de nossa língua.

Sabemos que, como jovens guerreiros, temos grandes responsabilidades. A maior delas é lutar pela terra e pela garantia de todos os nossos direitos. Para isso, precisamos nos fortalecer espiritualmente. Todos nós precisamos ter responsabilidade para com a cultura, com os nossos costumes, com a aldeia e com a natureza. Temos que nos assumir como Tupinambá, cumprir com todas as nossas obrigações e respeitar nossas lideranças, caciques, pajés e anciões. Precisamos buscar os conhecimentos dos mais velhos e dividir nossos saberes, transmitindo nossas ciências e nossas tradições para os curumins. Temos que procurar nossa história e saber contá-la, ensinando aqueles que querem aprender conosco. Precisamos que as lideranças nos ensinem a caminhar melhor, para sabermos nos defender de maneira digna e respeitosa.

Fonte: https://racismoambiental.net.br/2016/06/16/juventude-tupinamba-se-mobiliza-pelo-direito-a-terra/

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