Cabruar, 5 de novembro de 1987.

Das Lideranças Indígenas para o Brasil

No dia 05 de novembro, as lideranças indígenas se reuniram, para ir no local onde a mineradora estava localizado, para discutir com os funcionários desta mineradora, sobre a invasão deles, Então o Dionísio Krixi antes de nós ir pra lá, para esta pista que é a pista do Santo Antônio, o Dionísio já tinha dado mais de 5 avisos para eles se deslocarem daquela área que é área de conflitos, e ele nada de sair e enquanto mais falava pra eles mais eles tavam trazendo as maquinário pra dentro da área.  

E eles falavam que eles só saia de lá só com a ordem da FUNAI. Então isso ninguém aguentou, e ficamos de saco cheio de propósito deles. 

Então nós se reunimos e foram 107 Índios só guerreiros, até meninos de 7 a 8 anos também foram atrás do pai. 

Quando nós estavam perto da pista, aí todo mundo tirou a roupa para se pintarem, até o Paulo que é enfermeiro foi pintado de urucu.  

Aí como eu sou considerado dos primeiros líderes da tribo Munduruku, então eu escolhi os dez (10) tuxauas, para chegar primeiro com eles, ainda sem armas.

Aí eu marquei 10 minutos para o resto da turma chegarem lá, onde eles estavam hospedado. Então nós chegamos primeiro, quando nós entramos na porta eles estavam jogando o dominó, quando nós demos primeiro bom dia para eles, aí eles deixaram o dominó em cima da mesa. Aí eu falei para o gerente e perguntei: “Quem é o chefe? Onde ele está?” O gerente respondeu: “O chefe não está aqui, mas eu posso responder por ele, o que vocês perguntarem”. Então eu falei para ele: “A gente veio para conversar com ele. Só para conversar, não foi para brigar, e mesmo assim também vocês não vão brigar com nós. Mas não vão ficar com medo porque aí atrás vem mais de 100 índios guerreiros armados de arco-flecha e bordunas”. 

Quando passou uns 10 minutos que nós tinha marcado para os outros chegar; eles chegaram e cercaram a casa, entraram por todos os lados da porta da casa deles. Quando o gerente quis gritar, foi tarde para ele, porque nós já tinha cercado eles. Aí nós começamos a falar para eles que nós não tava aguentando mais, que nós estava de saco cheio, mas cheio mesmo, que já estava derramando por cima. Porque já tinhamos dado mais de 10 avisos, e vocês nada de sair e cada vez mais entrando na área. Parece que nós índio é mais educado do que os brancos. Porque nós pelo menos não anda invadindo a terra de seu ninguém e nem anda sujeito na terra dos outros. Nós estamos fazendo questão de terra, porque essa terra é nossa, e nós temos o direito de reclamar, porque essa terra é onde os nossos avós moraram antigamente, é por isso que nós estamos fazendo essa questão. 

Agora vocês não. Vocês estão totalmente errados, porque vocês vieram de longe, para trabalhar aqui na nossa terra. Cadê que nós sai daqui para ir trabalhar na terra de vocês? 

Nós estamos aqui aonde Deus deixou nós, e foi Deus que deu essa terra para nós e não foi nem o Governo que deu pra nós foi Deus que nos deu. Foi assim que nós dissemos para eles. E também: falamos para tomar os maquinários. Que nós ia tomar todos os maquinários, se quisesse receber, tinha que receber lá com a FUNAI. 

“E peço que vocês saiam logo daqui, porque se vocês não saírem, nós vamos abandonar os postos e as aldeias e entrar na mata para matar os brancos; matar como era antigamente, nós, vamos voltar a ser brabo. Quarta-feira a gente vem aqui novamente, para conversar com o chefe e é só até mais e boa tarde. 

DEMARCAÇÃO 

Aqui viemos para discutir e resolver nossos problema que é seguinte: Que nós Índios Munduruku pedimos que governo mande fazer mais rápido possível a demarcação da nossa área e seja efetivamente garantida para evitar as invasões constantes que até hoje ocorrem em nossa área. 

Já basta promessa do governo, porque ele não está cumprindo o artigo 19º da Lei do Índio, Só quer prometer e nunca cumprir. Que vergonha, não foi para isso que nasceu a nova Constituição, foi para ajudar os índios pobres. 

BARRAGEM  

E também nós pedimos ao Governo para não construir a barragem no rio Tapajós, porque vai criar muitos problemas para nós todos, vai acabar peixes e frutos e muitas outras coisas e a água vai ficar envenenada porque tem muito veneno em certos vegetais. Assim quando encher a água com esta barragem, por isso nós não aceitamos a construção da barragem. O Governo deve sentir o que é bom e o que é mau, Não só pensar em si, mas também pensar nos pobres e pensar em Deus que é Pai de todos nós. 

 

As perguntas sobre o Getúlio e mais dois civilizados, Foi no dia 15 de outubro de 1987: 

O que o Faustino falou: 

Olha meus irmãos brancos ! Nós já avisamos que nós não queremos mais branco aqui dentro da nossa área, nem para trabalhar, nem para fazer pesquisa de minério e nem para marretar. Por isso já estão sabendo do aviso que foi ditos. Já avisamos muitas vezes as mineradoras e empresas ricas.

Representante: Edésio Burum 

Falou: Nós não queremos brancos para tirar minério da nossa área, porque nós também sabemos tirar. Se eles entrar em que vamos trabalhar? Nós não somos besouro para revirar terra que já foi revirada por branco.

 

ROBERTO KRIXI 

Lideranças Munduruku

 

Fonte: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/carta-ao-min-dante-de-oliveira-sobre-invasoes-na-area-dos-munduruku-ehistorico

Original: 1987.11.05 Das Lideranças Indígenas para o Brasil

CARTAS RELACIONADAS