13 de abril de 2006.

De Michele Alves Machado para o Brasil.

O Outro Lado da História                                                                                                                          

 

            Conversando com os índios do acampamento de Porto Cambira, hoje 13/04/2006, tive a versão deles sobre o  acontecimento da morte de dois policiais na semana retrasada. Como eu já imaginava quem começou o confronto foram os próprios policiais que chegaram na área indígena de calção e chinelo num carro sem nenhuma identificação. Não se identificaram como policiais e começaram a procurar o líder do acampamento Carlito de Oliveira , que teria ido ao rio Dourados pescar e tomar banho,  já que o lugar onde vivem fica na beira do rio. Como não encontraram o líder, os policiais começaram a atirar para intimidar a comunidade, e um desses tiros atingiu o pé de um rapaz de 16 anos que está preso na Penitênciaria Harry Amorim Costa em Dourados – e isso não foi divulgado pela imprensa.

Depois que os policiais atiraram para todos os lados e acertaram o rapaz e também alguns animais, estes policiais foram para a ponte do rio e chegaram em uma chácara perguntando por uma fazenda que se chamaria “Aldeia Velha”, eles até falaram que o homem da chácara pode confirmar. Como não encontraram a tal fazenda voltaram atirando “por cima” do acampamento, então os indígenas cercaram os policiais – e não foram fechar a estrada com paus e pedras como foi divulgado na imprensa – somente acenaram para os policiais para perguntar o porquê que estavam atirando e assustando a comunidade. Então, os policiais, pararam o carro e começaram a xingar e a ofender os índios.  Os índios,  ao se defenderem, entraram em uma luta corporal com os policiais e assim, durante essa luta, um dos policiais atirou acertando o próprio companheiro. O policial que atirou ficou indignado e continuou  agredindo um dos índios enquanto o terceiro policial que é o sobrevivente o ajudava ,assim, em defesa, os indígenas,  com uma faca, atingiram um dos policiais.

Mas,  tudo começou para defender a área indígena onde vivem, e quem começou tudo foram os próprios policiais. Um dos policiais foi atingido na cabeça e ficou desacordado, e não estava fingindo-se de morto como também saiu na imprensa.

Depois de tudo o que aconteceu, os policiais federais ao investigar o caso no acampamento agrediram crianças e mulheres, roubaram celulares dos índios, pegaram de uma mulher dois diamantes que ela teria ganho no Paraguay, e ainda derramaram comida no chão das casas e obrigaram os índios a confessar o crime através de surras e ameaças. Os policiais enganaram  os índios dizendo que os levariam somente para dar  depoimento e já os prenderam. Com o rapaz que levou o tiro disseram que o levariam para o médico e quando saíram do acampamento deram voz de prisão a ele e o algemaram.

  Agora, como fica essa situação? Vai ficar como se os índios fossem os únicos culpados? Tudo bem que eles erraram, mas e os policiais que chegaram atirando e ofendendo os índios, vão sair como heróis?

 

Micheli Alves Machado, 20 anos – Kaiowá

 

Fonte: https://cimi.org.br/2006/04/24790/

https://jovensindigenas.org.br 

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