Reunidos na Ilha de São Pedro, no dia 09 de setembro de 1995, o Povo Indígena Xocó festejou e comemorou com seus amigos o 16º aniversário da conquista da Ilha de São Pedro – Terra Xocó.
Participaram das discussões e debates, aqui na Aldeia Indígena, lideranças indígenas como: Cacique Cícero, Pajé Júlio e oito parentes todos Kariri-Xocó; Cacique Saraiva e dez parentes todos Tinquí-Boto; Francisco, Lúcia e Angela todos Tremembé; Comunidade Negra Mucambo – Povoado Santiago; Movimento Popular Sergipe; CESEP; Juliano e Júnior – MOPEC; Lizaldo – Secretaria de Educação; Professores Ana Galvão e Marta – DEMEC; Professoras Gleide Selma e Solange – DR – 7; Professora Damiana; Professora Isabel – Diretora da Escola Rural Povoado Mucambo; Professora Nadja – Escola Indígena Xocó; Professora Hélia – Diretora do Museu de Antropologia da Universidade Federal de Sergipe, juntamente com as alunas fabiana e Fabrice; Maria Amélia – Organização Indígena tremembé de Almofala; Professores Vilma e Wilson, juntamente com 48 alunos do Colégio Didático de Itabaiana; Manoel Oliveira – Líder Sindical; Raimundo – Centro Popular Zé Julião; Padre Marivaldo – Porto da Folha; Paulo Fernando – FUNAI/ADR Maceió; Nascimento – FUNAI/Belém; e todo Povo Indígena Xocó.
Todos os seguimentos da sociedade civil organizada, acima mencionados, participaram da festa Xocó e apoiaram nosso povo quando da luta que ora estamos desencalhando em busca de alternativa e busca do desenvolvimento de nossa própria autonomia, nossa auto gestão sobre a terra e recursos naturais que existem em nossa Reserva Indígena, para garantir o sustento digno e justo do nosso povo. Para isso precisamos de uma política pública municipal, estadual e nacional, que respeite a nós povos indígenas do Nordeste como povo diferenciado que somos.
Neste ano de 1995, quando nós, Xocó, comemoramos os 16 anos de conquista da Ilha, decidimos fazer uma programação convidando todos aqueles que juntaram-se a nós Xocó quando resolvemos voltar as terras nossas que nossos antepassados foram expulsos. Assim sendo, os debates e discussões ocorreram da seguinte forma:
1 – O Povo Xocó resgata a memória da luta nossa nesses 16 anos de caminhada;
2 – As entidades como a Paróquia de Porto da Folha, Diocese de Propriá, Universidade Federal de Sergipe, Comissão Pró-Indio de Sergipe, deram seus depoimentos como participantes desse processo vitorioso na luta pela retomada da terra indígena Xocó, após ouvir atentamente os depoimentos do povo indígena Xocó e dos amigos nossos, foi como se estivesse começando tudo outra vez. A dor machuca, mas também ensina tanto e hoje encontramos amigos que já faziam mais de 11 anos que não nos viam.
Assim que ouvimos a palavra de cada um dos demais participantes, como professores e estudantes, só enriqueceram o debate com perguntas e informações, deixando a nossa Comunidade com a sensação de viver tudo que vivemos antes, talvez se tivesse que começar tudo outra vez, recomeçaríamos sem nenhum receio. Hoje 16 anos depois de uma luta desigual, o povo Xocó aprendeu algumas lições, lições essa que só tem ajudado a Comunidade crescer e se auto-desenvolver, com isso podemos falar auto e de bom som que vencemos em parte os desafios que encontramos em nosso caminho, haja visto nós termos conseguido a posse definitiva da Ilha, Caiçara, Surubim e São Geraldo.
Projetos já garantidos ao povo Xocó: construção de um posto de saúde, constituição do NEIXO – Núcleo de Educação Indígena Xocó, a disponibilidade de uma professora junto a Secretaria de Educação, investimento na pecuária, roça. fios de naylon para confecção de rede e tarrafas.
Projetos a curto, médio e longo prazos: Montar na aldeia o ensino desde a alfabetização até a 8ª série, aumentar o quadro de professores, médico e dentista na aldeia – Convênio FUNAI/FNS/Universidade Federal de Sergipe/Secretaria de Saúde, restauração da Igreja, reflorestamento da Reserva Indígena, criando uma reserva ecológica, repovoamento da caça e peixe, um zoológico, construir um instituto com uma oficina de arte, construção de uma ponte ligando os dois territórios, Ilha de São Pedro – Caiçara, rede elétrica, posto telefônico, saneamento básico, água tratada, esgoto, calçamento, etc.
As perspectivas do povo Xocó: Após ser detectado todas essas necessidades, nasceu entre os Xocós as perspectivas de que as coisas vão melhorar, principalmente quando descobrimos os caminhos que podemos ter apoio para viabilizar um “projetão”, visando dar uma assistência melhor a Comunidade Indígena Xocó, hoje consciente de que é possível esses investimentos, devido a nós teremos paumilhado várias Secretarias do Estado, Instituições bancárias, órgãos do Governo Federal, todos esses órgãos foram sencíveis as necessidades do povo Xocó. Com isso se abriu um caminho que já estamos trilhando e outros com certeza irão surgindo dentro essa nova luta que estamos vivendo no momento de consolidação de projetos econômicos na reserva indígena Caiçara.
Portanto são essas as ações defendidas hoje pelo povo Xocó, a curto, médio e logo prazos, para isso é importante o apoio de todos vocês em prol da vida e futuro de nossa Comunidade Indígena, sabemos que vencemos algumas batalhas, outras serão vencidas, pois a luta continua em busca de uma estrutura descente para um povo que ainda mantém seus costumes tradicionais.
Saudações Indígenas
Cacique Apolonio Xocó
Original: 1995.09.09 Dos Xocó para o Brasil