Território Indígena do Povo Gamela, 3 de outubro de 2016.

Do Povo Gamela para o Brasil

Nota Pública – Povo Gamela (MA)

“Somos sementes. Se nos matarem, como sementes espalhadas,

vamos germinar em muitos lugares”.

Zilmar Mendes, liderança do Quilombo Charco-Juçaral/S.Vicente Ferrer/MA

Com preocupação e indignação nos dirigimos aos homens e mulheres de boa vontade para apresentar o que segue: há meses várias lideranças do Povo Indígena Gamela, do estado Maranhão, vem sendo ameaçadas de morte desde que tomamos a decisão de retomar nossas terras tradicionais às quais pertencemos.

Em 02 Dezembro de 2015, por volta de 22 horas, uma pessoa desconhecida em um carro que saia da área invadida pela juíza de direito Maria Eunice Nascimento Serra, disparou tirou de uma pistola 380 em direção ao acampamento dos indígenas. O fato foi registrado na DPC de Viana, os estojos das balas foram entregues ao delegado regional.

Nos dias seguintes novas ameaças de morte foram feitas pelo fazendeiro José Manoel Penha, conhecido como Castelo, inclusive na presença do Secretário Estadual de Direitos Humanos e Participação Popular, membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MA e servidores da Fundação Nacional do Índio/MA.  Em outra ocasião, o mesmo fazendeiro repetiu as mesmas ameaças em uma casa da comunidade indígena. Nestas duas ocasiões as ameaças foram gravadas.

Por ocasião desta última ameaça, o mesmo fazendeiro relatou a ocorrência de uma reunião entre fazendeiros na cidade de Viana para tratar do que chamam de invasões. Segundo o mesmo a solução seria matar “uns quatro cabeças”. Nessa conversa, segundo ele, um irmão de Benito Coelho Filho teria dito explicitamente que deveriam matar o padre logo.

Em 15 de fevereiro, estas ameaças foram apresentadas ao Secretário Estadual de Segurança Pública e ao Superintendente de Polícia Civil do Interior, bem como foram entregues as gravações. Também foram registradas na Superintendência da Policia Federal, no Maranhão.

No dia 21 de agosto, pistoleiros a mando do fazendeiro Tenack Serra Costa Junior, conhecido como Júnior da cerâmica, invadiram a nossa aldeia, dispararam tiros de uma pistola 40 e ainda prometeram “um banho de sangue”.

Em todas as ameaças são repetidos os nomes das lideranças Antonio de Marcírio, Jaleco, Inaldo, Jaldo, Kaw, Mandioca, Foboca, Zé Oscar, ‘Seu’ Duca, Carrinho.  As informações que chegam a nós dão conta da existência de uma articulação entre fazendeiros dispostos a financiarem a execução das referidas lideranças.

Nos últimos dias, com o caráter preconceituoso e racista do Parecer da Promotora de Justiça Karini Kirimis Viegas e da Decisão do juiz Celso Serafim Junior da Comarca de Matinha – MA, as ameaças voltaram a se intensificar. Proprietários de terras que incidem sobre o nosso território mandaram recado avisando que estão preparando a execução de Jaleco e deixaram às margens de um açude uma inscrição com a ordem para matar Inaldo.

Em meio a essa situação, nossas cantorias e rituais sagrados alimentam a serenidade de nossos espíritos e a certeza de sermos sementes. Por isso, enganam-se aqueles que pensam que a morte poderá por fim à nossa luta: se nos matarem, como sementes, vamos germinar nas lutas dos povos. Nem o medo, nem as balas assassinas de latifundiários poderão nos deter.

Tempo dos Ipês

Fonte: https://cimi.org.br/2016/10/38890/

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