22 de abril de 2006.

De Antonio João Rodrigues para o Brasil.

 

A outra versão

  

No dia treze de abril de 2006, fomos a aldeia de Porto Cambira, com o objetivo de ouvir a versão deles sobre acontecimento que ocorreu no dia primeiro de abril deste ano, no qual índios mataram policiais.  Com certeza foi um crime muito grave – como todo crime-, mas a imprensa e a sociedade colocou como se fosse todo o meu povo o culpado por tais fatos, sem ao menos ouvir o que realmente aconteceu.

A imprensa ouviu apenas aquelas pessoas que tem poder, como por exemplo os policiais, mas, não ouviu o povo que realmente sofreu. A imprensa simplesmente fechou os olhos e tampou os ouvidos, não dando a mínima, e agora quero relatar o que realmente aconteceu.

O líder que está hoje na aldeia, Sr. Leonardo, disse que, simplesmente, os policiais chegaram na entrada da aldeia e foram dando tiros, e os nossos irmãos indígenas ficaram assustados, foram ver o que estava acontecendo e quem eram. Saindo na estrada foram surpreendidos, pois eram policiais e, assim que foram vistos, os policiais os abordaram, agredindo-os. Os policiais também nem sequer estavam fardados ou com  qualquer tipo de mandato para entrarem na aldeia. Por um dos índios ter sido  atingido por uma bala e para nao ver nossos irmãos morrerem, revidaram também com violência, sem outra alternativa, a não ser com a luta corporal.

Porém, várias cápsulas de bala foram encontradas, e isso não foi divulgado na impressa, pois quem tinha as armas eram os próprios policiais.

O meu povo estava vivendo em paz, plantando o seu alimento, e  agora depois deste acontecido precisam buscar ajuda para esclarecer toda a situação, pois certas pessoas que tem o poder nas mãos, pessoas que na verdade teriam que defender os índios, estão do lado do poder, e não fazem  que teria que ser feito.

Meu povo queria apenas a Paz, um pedaço de chão para sobreviver. Hoje estão assustados, sendo humilhados pela sociedade, por esta não conhecer a verdade.

Chega! Iremos lutar de acordo com a justiça e não com a violência como fizeram com meu povo.

 

 Antonio Joao Rodrigues (Ada) , 18 anos – etnia Guarani

 

Fonte: https://cimi.org.br/2006/04/24790/

https://jovensindigenas.org.br 

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