Carta do IV Encontro da Juventude Xukuru-Kariri e I Encontro de Jovens Indígenas do Estado de Alagoas: Resistência frente ataques aos nossos direitos.
Reunidos de 8 a 11 de outubro de 2019 na Aldeia Fazenda Canto, Terra Indígena Xukuru-Kariri, Palmeira dos Índios – AL, nós dos povos Xukuru-Kariri, Wassu-Cocal, Jiripankó, Katokinn, Karuazú, Xokó (SE) e os seguintes aliados: IFAL, UFAL, UNEAL, NAFRI/CESMAC, IRPAA, SINDIPREV, PJMP, CIMI, AAGRA, APOINME, MPDC e MNU, após refletirmos sobre temas referentes à atual conjuntura, marcada pela retirada massiva de direitos, viemos manifestar nosso repúdio à forma como o Estado brasileiro se mostra omisso na aplicação de políticas públicas e na efetivação dos direitos dos povos indígenas. Em comunhão com o Sínodo da Amazônia, celebramos juntamente com o Bispo Dom Manoel Filho, da Diocese de Palmeira dos Índios. O Sínodo simboliza e trás para os povos o Bem- Viver, o respeito e cuidado com a casa comum – a biodiversidade – e a função da Igreja missionária na construção de uma ecologia integral.
Nos últimos tempos o governo federal vem abertamente promovendo ações que buscam desmobilizar os povos indígenas e suas organizações sociais. Citamos como exemplo as tentativas de deslegitimar e criminalizar lideranças tradicionais, como o recente caso envolvendo o cacique Raoni Kayapó, ao mesmo tempo em que fomenta e legitima supostas lideranças alinhadas aos interesses de grupos anti-indígenas, mas que não são reconhecidas pelos povos , essas ações estão provocando agudos e dramáticos conflitos internos nas comunidades, na completa contramão do que prevê a Constituição Federal de 1988.
Há um evidente alinhamento entre os três poderes e o capital financeiro, nacional e internacional, cujo principal objetivo é o extermínio dos povos indígenas e a tomada de seus territórios, cujos recursos naturais tem sido, historicamente, objeto de cobiça das elites políticas e econômicas do País. É o que expressa com muita clareza a tese jurídica do Marco Temporal e a PEC 187, que autoriza a exploração e arrendamento das Terras Indígenas, o aparelhamento e desmonte da FUNAI e da SESAI, os quais repudiamos veementemente.
Diante desse cenário, reiteramos a necessidade de articular os conhecimentos e a atuação das lideranças tradicionais com a formação, organização e luta política da juventude indígena. Nesse sentido, o encontro permitiu compreender com mais clareza o que está posto e como podemos lidar com tais ataques. Além disso, saímos comprometidos com a tarefa de difundir o que construímos e aprendemos ao longo desses dias em nossas respectivas bases e dar continuidade a um projeto de articulação da juventude indígena de Alagoas e Sergipe.
Reiteramos que é preciso defender a educação escolar e a saúde indígena, específicas e diferenciadas, bem como a demarcação e a regularização dos nossos territórios, aos quais temos direito originário. O Estado deve garantir o Bem Viver, que passa pela execução de concursos públicos para o magistério e saúde indígenas, assim como pela conquista territorial e fomento aos modos tradicionais de produção. Entendemos que a luta extrapola a análise política. Precisamos ampliar o leque de alianças e ocupar os espaços de representação para o efetivo enfrentamento da investida não indígena, que visa aniquilar sociocultural e fisicamente nossos povos. Nesse processo, a juventude deve desempenhar um papel fundamental. Organizada, ela conseguirá levar adiante o legado, as experiências e as histórias de luta herdadas das gerações passadas, que não cessam de nos ensinar. Saímos daqui com esse espírito.
Fonte: https://cimi.org.br/2019/10/juventude-indigena-de-alagoas-realiza-encontro-para-organizar-resistencia-em-defesa-dos-direitos-indigenas/