Minha participação ou simplesmente minha presença em Puebla seria um passo a mais dadopela Igreja em relação a sua caminhada pela reevangelização dos povos.
A igreja em sua nova visão com respeito aos povos indígenas, reconhece que somos dotados de valores puramente cristãos, portanto germens da palavra de Cristo. Mas para a igreja reencarnar nesta nova realidade será necessário despir-se de muitos conceitos e valores de que está possuída.
Não estou querendo ditar conceitos de normas mas dar simplesmente pareceres que irão ser colaboração da minha parte, já que aos poucos os pastores da igreja terão que contar com a colaboração do povo e das minorias étnicas para a elaboração de planos de trabalho ou seja os caminhos a serem trilhados neste processo de libertação dos povos.
Neste aspecto temos visto concretização no caminhar desta nova realidade, através da criação da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Pastoral Operária e do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) que são instrumentos da Igreja no Brasil que estão comprometidos mais diretamente com a realidade do povo oprimido.
Quanto à atuação específica junto aos povos indígenas por parte da Igreja, cabe frisar que o método de imposição de valores culturais e materiais em épocas passadas e no desconhecimento dos valores que possuímos, foram e ainda são em muitas regiões do Brasil, formas de destruição cultural dos povos indígenas. Porque deparamos com padres e bispos simplesmente interessados na salvação da alma do índio deixando em segundo plano o respeito pela sua dignidade e cultura indígena.
A compreensão e o assumir por parte da igreja desses valores é uma atitude que será aceita por qualquer tribo indígena. Portanto isto vai do encontro a “Evangelização no Presente e no Futuro da América Latina” a ser debatida pelo Episcopado Latino-Americano em Puebla.
No conjunto houve um despertar para a grande diferença existente entre duas sociedades. A nossa e aquela que nos oprime.
Há uma boaoparte de missionários que teoricamente fazem uma boa caminhada ao nosso encontro, mas na prática a grande maioria estão de forma viciada a usar métodos colonialistas que mesmo sob as diretrizes da nova opção continuam a nos subjulgar.
A imposição de valores materiais entra em choque com a nossa economia de subsistência. E a orientação que muitas vezes nos dão inclusive com técnicas, é voltado para uma alimentação razoável.
Conseguem verbas astronômicas do país e do estrangeiro para comprar não o que vital importância mas que eles mesmos de uma ou outra forma nos sugeriram ou, o que eles mesmos julgam ser importante para nós.
Com respeito ao governo brasileiro diante da problemática indígena do Brasil, tenho a dizer que o índio brasileiro tem sido vítima de interesses alheios, que como consequência tiveram o seu patrimônio cultural destruido e suas riquezas materiais e territorial explicado.
Ultimamente ameaçado pela emancipação que segundo parecer de pessoas especializadas no assunto, essa emancipação é duvidosa por parecer justamente no momento em que os fatos que ocorrem em áreas indígenas mostram com clara evidência o contraste das afirmações feitas por fontes do governo com a realidade a que estamos sujeitos.
O papel da igreja no processo de libertação dos povos indígenas é de tomar atitudes concretas em defesa das tribos indígenas. Auxiliando-nos na conscientização dos nossos direitos. No ostuo mais profundo de nossa realidade atual.
Procurando através de todos os meios legais uma solução para os problemas indigenas. Principalmente o problema da terra, o nosso único meio de sobrevivência. Que seja garantido o uso e a posse das terras habitadas pelos índios e que seja restabelecido as terras que foram usurpadas pelos brancos.
A atuação da igreja através do Cimi, tem-nos auxiliado através do apoio e incentivo às assembléias de chefes que tem levado a estudo e debates mais profundos de nossa realidade.
O diálogo, o conhecimento mútuo, os depoimentos dos participantes têm-nos levado a uma consciência mais sensível dos nossos problemas. Partindo daí procuramos as devidas soluções, intervindo junto às autoridades competentes-a Funai.
Que na maioria das vezes faz promessas vãs que nunca são cumpridas. O que nos leva a tomar atitudes concretas para defender nosso patrimônio físico e cultural.
Original: 1979. De Daniel Cabixi para o Brasil