Aldeia Nova Trairão, 26 de agosto de 2022.

Das Mulheres Munduruku para o Brasil

Aldeia Nova Trairão, 26 de agosto de 2022.

CARTA DA II ASSEMBLEIA DAS MULHERES MUNDURUKU

Oce Eipi Etabeğ at kadiat tatam ayacayũ – Mulheres em luta pela defesa da vida nas nossas Terras

Nos reunimos mulheres guerreiras, caciques, cacicas, guerreiros, pajés, Associação Wakoborũn, Movimento Ipereğ Ayũ, Associações Da’uk, Arikico, Wuyxaximã, Aro, Pariri, CIMAT e quatro coletivos audiovisuais do alto e médio Tapajós, no centro de formação da resistência na aldeia Nova Trairão, Terra Indígena Munduruku, na II Assembleia das Mulheres Munduruku.

Discutimos sobre as ameaças às nossas vidas e a destruição de nosso território, que seguem aumentando a cada dia. Sabemos que o Governo guarda planos de implantação de grandes projetos que afetam e ameaçam nossas terras e locais sagrados, como hidrelétricas, hidrovia, portos, ferrovias, concessões madeireiras e projetos de créditos de carbono. Ouvimos o sofrimento das mulheres dos rios mais impactados pelo garimpo ilegal, o Rio das Tropas e o Rio Kabitutu. Elas contaram que a caça e a pesca que existiam antigamente não existem mais. Os rios estão poluídos, a água está igual leite. As crianças não podem mais tomar banho, as mulheres não podem lavar suas roupas, pescar, o povo está todo doente, cheio de mercúrio, malária e outras doenças. Disseram também que vão continuar na luta pelo território, que é nossa mãe e dá sustento aos nossos filhos. Os caciques completaram que estão sendo ameaçados e não conseguem defender a floresta e os rios que Karosakaybu deixou para os povos indígenas protegerem.

Falamos sobre como o Governo Bolsonaro transformou a Funai em um órgão que age contra os povos indígenas e incentiva invasões das nossas terras. Mostramos que a Funai tem que fazer o seu papel de fiscalizar e proteger nossas terras. Que nós estamos há muitos anos fazendo esse papel, retirando invasores e fazendo monitoramento do nosso território por isso somos cada vez mais ameaçadas, temos aldeias queimadas, sede das associações de resistência atacadas.

Nós mulheres e lideranças do médio Tapajós passamos atualmente por dificuldades de invasões de garimpeiros e madeireiros nas Terras Indígenas Sawre Muybu e Sawre Ba’pim e a Funai paralisa e faz andar para trás os processos de demarcação, dando a desculpa do marco temporal, mais um absurdo criado pelos pariwat. Esse marco temporal afeta também nossas terras já homologadas, como a TI Kayabi, porque os fazendeiros que invadiram e expulsaram a gente de lá entram na justiça e os Ministros do Supremo Tribunal Federal aceitam retirar nossos direitos originários com esse argumento. O marco temporal deveria ser aplicado para os pariwat. Vocês brancos que deveriam provar para nós quando chegaram nas nossas terras e pedirem permissão para estar aqui. Todo mundo sabe que o Brasil todo sempre foi terra indígena e agora somos obrigados a lutar pela demarcação de um pedaço do nosso território por causa desses invasores.

Cobramos também a SESAI para que faça o reconhecimento da nossa medicina tradicional e do trabalho dos pajés, bem como que forneça estrutura de saneamento e água adequada para as aldeias.

Nós vamos continuar lutando pela vida, pela valorização do nosso conhecimento, pelos direitos dos povos indígenas, das mulheres, pela demarcação das nossas terras e finalizamos nossa Assembleia com esperança de mudança nesse desgoverno do Brasil.

Nós mulheres Munduruku somos contra o marco temporal, a PL 490 e a PL 191 e sempre vamos continuar a lutar pela defesa do território e direitos próprios com o Governo Karodaybi e Wakoborũn.

Fonte: https://movimentomundurukuiperegayuii.wordpress.com/2022/08/29/carta-da-ii-assembleia-das-mulheres-munduruku/

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