Surumu, 09 de janeiro de 1985

De Davi Kopenawa Yanomami para o Brasil

Davi Yanomami
Carreira Wakathautheri Yanomami
Rubi Waika Yanomami

Tem muito Yanomami que vive no Brasil e na Venezuela. Pensamos que tem 20 mil. Para nós são um povo só, porque entendemos a língua de todos eles.
Os Yanomami não saem de suas aldeias e por isso muitos só falam Yanomami
Eu, Davi, estudei primeiro a língua nossa, comecei a escrever e ler em Yanomami. Eu nunca fui na Escola dos brancos e por isso não sei falar bem o português. Os outros Yanomami também não falam português.
Nós fomos convidados para vir aqui na reunião para contar a vocês nossa situação. Nossas terras não são demarcadas. Por isso estão sendo invadidas pelos brancos que estão tirando o outro de nossas terras indígenas e estão trazendo as doenças e contaminam os Yanomami. Doença de branco nós chamamos de Xawará. Essas doenças matam nosso povo.
Primeiro o Yanomami não sabia que os garimpeiros invadiram suas terras. Agora nós estamos sabendo; aqueles que moram perto dos garimpeiros e dos fazendeiros, os Yanomami do Ajarani, do Catrimani, do Demini, do Couto do Magalhães e do Ericó. Tem Yanomami que sabe que é ruim para eles e ficam tristes porque pegam doenças. Tem outros que acham bom porque recebem terçados, machados, penolas e  fosforos que eles precisam no mato para usar
Agora nós que sabemos que os garimpeiros nos enganam, vamos comunicar aos outros para eles também saberem o que está acontecendo com nosso povo. Os garimpeiros querem pegar nossas mulheres Yanomami para ficar com elas e eles estão enganando e roubando nosso ouro
Estou contando isso para voces porque estou preocupado e zangado. Quero vocês conhecer nossa situação, saber nossa preocupação e quero vocês lutar com nós.
Nós Yanomami queremos a demarcação do nosso Parque Yanomami. Uma área contínua, isso é muito importante para nós Yanomami

 

Fonte: https://acervo.socioambiental.org/acervo/documentos/carta-da-diocese-de-roraima-ao-iwgia

Original: 1985.01.09 De Davi Kopenawa Yanomami para o Brasil

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