28 de novembro de 2004.
Amiga(o), Paz e Bem!
Quero por meio deste lhe informar que estou bem, porém sinto tristeza pelo ato desumano praticado contra o meu povo indígena na Terra Indígena Raposa Serra do Sol. Portanto, as 6:00 horas da manhã do dia 23 de novembro de 2004, iniciei o trabalho, juntamente com o coordenador do CIR, voltado a arrecadação de produtos alimentícios e outros para mandar aos moradores afetados pelo terrorismo nas comunidades de Jawari, Homologaão, Brilho do Sol, Insikiran e Taitai.
Após conseguir poucos produtos, partir das 11:00 da manhã fui para as comunidades. O meu sentimento dizia que deveríamos dar o troco mais brutal, mas tudo isso com certeza não serviria para a nossa organização e luta. Na viajem estive acompanhado de um casal de parentes, um senhora da OMIR e o motorista do CIR. Depois de 2 horas viajando, chegamos na primeira comunidade destruída, Taitai. Os parentes indígenas estavam lá, sem casa, comida, ferramentas e outros materiais necessários. Deixamos uma parte de colaboração e seguimos viajem. Após 20 minutos chegamos na comunidade Brilho do Sol localizada próxima a invasão do Coronel Wilson.
Encontramos apenas mulheres e crianças também sem casa, comida, roupas e outros. Algumas mulheres diziam que os terroristas chegaram na comunidade ao amanhecer, todos armados, mascarados e não ouviram os indígenas. Tocaram fogo na casa e ameaçaram as crianças e mulheres. Deixamos algumas colaborações e partimos. Com 20 minutos chegamos na comunidade de Homologação. Lá a situação era mais crítica, pois além de crianças e mulheres haviam grávidas. Em seguida chegamos em Jawari, local onde teve feridos. Destruíram as casas com tratores, motosserras, atearam gasolina e ameaçaram os moradores com armas de fogo. Os arrozeiros e assassinos, políticos e fazendeiros assassinos estavam presentes na destruição. A escola, posto de saúde, plantios foram afetadas e exterminadas. Os moradores dormiam embaixo de arvores e comiam algumas coisas que iam aparecendo com a oferta de amigos. As crianças estavam assustadas, tristes e doentes.
O que se pôde fazer talvez não foi o suficiente, mas acredito em nossa paciência, perseverança e luta , pois futuramente teremos alegria mesmo sendo mortos e ameaçados. Portanto, as 5 comunidades atendidas com o apoio do CIR esperamos que possam trabalhar novamente e assim ampliar o apoio junto com você que com certeza não está do lado dos assassinos e covardes. Por isso, com o meu estudo, trabalho, luta, perseverança, parceria, compromisso e amor com o meu povo vou mostrar a força que nós temos contra os vândalos de Roraima. Lutarei até o ultimo índio.
Nos espantaram com surpresa, mas isso não significa que vão nos espantar novamente. Quando os meus tuxauas me autorizarem a iniciar a luta com certeza seremos um feixe de vara bem firme.
Tudo isso é uma parte de relato, mas estaremos pronto para lhe contar pessoalmente no CIR ou até mesmo nas comunidades. Enfim, convido você a enviar este documento informando para alguma instituição ou amigos que queiram nos apoiar e assim denunciar o ato desumano praticado contra um povo indígena que nunca pensou de ameaçar a nação brasileira ou até povos existentes no Brasil.
Queremos apenas a HOMOLOGAÃO EM ÁREA CONTINUA DA TERRA INDIGENA RAPOSA SERRA DO SOL. Pense amigo ( a )! Queimaram as madeiras, as florestas, destruíram os trabalhos, mas não destruíram com os trabalhadores. “Eu sou criança, tenho esperança que a HOMOLOGAÃO estará em nossas mãos” disse Helcio de Souza, indígena da comunidade Brilho do Sol.
Atenciosamente,
Mario Nicacio
Fonte: https://pib.socioambiental.org/pt/Not%C3%ADcias?id=13822