Aldeia Ximborenda, 17 e 18 de julho de 2016.

Do Povo Ka’apor para o Brasil

“Não aceitamos ser tutelados, estamos organizados….Respeitem nosso jeito de ser, viver e se organizar em nossa casa, nosso territorio e proteger nossa floresta”

Nós povo Ka’apor sabemos cuidar, viver e proteger nosso território, cultivamos a vida e fazemos isso a mais tempo do que os livros dos Kamara contam. Fazemos a nossa parte, mas o governo ainda não fez a parte dele. Ficamos ameaçados se o governo não faz a parte dele e ainda fica interferindo em nossa organização e não respeita nossos direitos. Por isso a gente quer falar um pouco para o Brasil o que acontece com a gente, por que lutamos e não aceitamos mais ser mandado e controlado pelo governo.

A Terra Indígena Alto Turiaçu é uma pequena parte do grande território que a gente vivia antes ser invadido, tomado a força da gente, perseguindo e matando nossos parentes, e o governo nem consultou a gente. Por isso que a gente continua lutando pra não perder o que temos.

Lutamos sozinhos durante esses anos, enfrentamos e expulsamos madeireiros. Por causa disso, mataram 5 lideranças, agrediram e atiraram em nossos guardas florestais, invadiram duas aldeias, madeireiros sequestraram Iraúna ka’apor, estão ameaçando matar mais de 8 lideranças e apoiadores de nossa luta em defesa de nosso território. Tudo isso denunciamos para os órgãos do Estado, para Funai, IBAMA, para Policia Federal, MPF em São Luís e para relatora da ONU em Brasília.

Agora nossos inimigos não conseguem entrar com tratores, jericos, motosserras, caminhões, atirar na gente. Estão usando funcionários da Funai e de outros órgãos do governo do Estado para dividir nossas lideranças, tirar nossa atenção de proteger nosso território, acabar com nossa organização e jeito de proteger nosso território. Eles estão fazendo reuniões, falam mal de nossa organização, querem tirar Itahu Ka’apor da CTL Zé Doca, acabar como nosso Conselho de Gestão Ka’apor, tomar e controlar nossa associação, afastar nossos apoiadores e parceiros, prometendo dar estrutura para aldeias e mudar o jeito de trabalho dos Ka’apor. Eles deveriam seguir o que o juiz mandou que é criar bases de vigilância e fiscalização em nosso território, prender os assassinos que mataram nossos parentes esses anos, investigar o sumiço de nossa parente Iraúna Ka’apor, dar condições para os Kamara que moram perto de nosso território viverem bem para não explorar nosso território.

Desde 2009 a gente vem organizando nossa educação, saúde, assistência, protegendo com mais força nosso território e melhorando nossa alimentação. Em dezembro de 2013 em nossa assembleia decidimos voltar nossa forma tradicional de se organizar, decidir, proteger nosso território e viver sem ameaçar e destruir a floresta. Criamos o Conselho de Gestão Ka’apor que representa nossos antigos TUXÁ. Nossos Tuxá são guerreiros, guardam nossos costumes, nossa cultura original, trabalham para nosso povo servindo e protegendo nossa cultura e território. Nessa assembleia escolhemos um grupo de lideranças. A gente vem acompanhando o trabalho de todos. Criamos um Acordo de Convivência interno que diz que nosso povo, nossas lideranças não podem falhar com nossa cultura e adotar a cultura, costumes dos Kamará que enfraquece nossa cultura, nossa vida e ameaça nosso território.

Não vamos aceitar que essas pessoas que chegaram no final do ano passado destruam nosso trabalho e organização que construímos com suor, muita luta pra melhoria de nossa vida. Assim como não aceitamos os ataques contra nossos parentes Guarany Kaiowá, Tupinambá, Munduruku, Pataxó Hãhãhãe, Gamela e outros.

Nosso Conselho de Gestão Ka’apor visitou, consultou e reuniu com a maioria dos conselhos das aldeias e todos decidiram que:

  • O nosso Conselho de Gestão Ka’apor quem escuta e decide pelo nosso povo
  • Manter e continuar criando Conselho nas Aldeias
  • Manter e ampliar nossa Guarda Florestal Ka’apor
  • Manter e ampliar nossos Ka’a usak ha ta – Áreas de Proteção Ka’apor com sistemas solares
  • Manter e ampliar nossos Agentes Agroflorestais Ka’apor
  • Manter e ampliar nossas experiências de Agrofloresta Ka’apor em nossas áreas de Proteção valorizando nossa cultura tradicional para a criação de nossa Ma’e Hain rok (Casa de Sementes)
  • Manter nosso Centro de Formação Saberes Ka’apor como espaço de Educação e Formação Ka’apor
  • Manter nosso jeito de Educar e organizar como orienta nosso Projeto Pedagógico e Curricular Ka’apor
  • Manter e maior respeito aos nossos Gestores de Educação Ka’apor
  • Manter nossa participação na Gestão de nosso Polo Base de Saúde Indígena com orientação de nosso Pajés
  • Manter Itahu Ka’apor na Coordenação Técnica Local e Gestor em nossa Assistência Social
  • Manter as parcerias e apoios na educação, saúde e proteção territorial
  • Manter a gestão territorial e ambiental pelos Agentes Agroflorestais e Guardas Florestais Ka’apor

Não aceitamos que funcionários do governo mande, controle, divida e destrua nosso povo e nossa organização.

Não aceitamos nenhum golpe! Vamos continuar lutando em defesa de nossa autonomia, floresta e território!

Conselho de Gestão Ka’apor

Conselho da Aldeia Ximborenda

Conselho da Aldeia Waxiguirenda

Conselho da Aldeia Zé Gurupi

Conselho da Aldeia Bacurizeiro

Conselho da Área de Proteção Jumu’eha renda Keruhu ou Centro de Formação Saberes Ka’apor,

Conselho da Área de Proteção Ywyãhurenda

Conselho da Área de Proteção Ypahurenda

Conselho da Área de Proteção Jaxipuxirenda

Conselho da Área de Proteção Eirhurenda

Conselho da Área de Proteção Akadju’yrenda

Lideranças Aldeia Capitão Mirá

Lideranças Aldeia Piquizeiro

Lideranças Aldeia Cumaru

Lideranças da Área de Proteção Tawaxirenda.

Fonte: https://racismoambiental.net.br/2016/07/20/carta-do-povo-kaapor-a-sociedade-brasileira-em-defesa-dos-direitos-indigenas-e-da-autonomia/

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