21 de julho de 2017
SOMOS FEITOS DO SAGRADO!
Esse local é sagrado porque aqui quando o mundo estava se formando Karosakaybu fez Karubixexe, Dekoká’a e Dajekapat.
Nós pajés vemos e ouvimos nossos antepassados se manifestando e cobrando de nós porque suas moradas não existem mais. As urnas devem ser devolvidas e não ficar com os pariwat. Nós vamos escolher um novo lugar para elas.
Nós Munduruku somos feitos do sagrado e vivemos do sagrado e nós pajés ajudamos o povo a seguir no seu caminho. Não temos problemas com os evangélicos ou com os pains sabemos que eles também conhecem o sagrado, respeitamos isso, eles também ajudam, mas não sabem o caminho certo, por isso nós trouxemos nosso povo aqui. Para verem de perto o mal que existe aonde antes era lugar de proteção e saúde.
Os pariwat também tem seus lugares sagrados e seus objetos sagrados, os livros, as bíblias com o que eles andam, antes de serem sagrados já foram outras coisas. O papel desses livros se não tiver verdades, não será sagrado.
É desse jeito que vemos nossas Karubixexe, Dekoká’a e Dajekapat e outros locais que nem são conhecidos dos pariwat. Precisamos trazer o equilíbrio das coisas vivas e dos espíritos no rio idixidi, que essas hidrelétricas destruíram.
Vimos as urnas e vamos lutar para que elas sejam mantidas seguras, elas não são para ficar no vidro como atração, vão voltar para os seus locais.A usina Teles Pires destruiu nosso local sagrado Karubixexe e tem que pagar. A usina São Manuel destruiu Dekoka’a. Exigimos que seja feito um estudo antropológico sobre a destruição de Karubixexe e Dekoka’a. O estudo tem que ser financiado pelas usinas, nós povo Munduruku vamos escolher e indicar o antropólogo responsável pelo estudo. Este estudo é diferente do EIA/RIMA e do Estudo da Componente Indígena. Aguardaremos também o pedido de desculpas por terem destruídos nosso local sagrado, deverá ser feito na audiência da aldeia Missão Cururu, como apresentado na carta de reivindicação entregue na reunião do dia 19 de julho de 2017, no canteiro de obras da São Manoel.
A usina São Manoel destruiu nosso local sagrado Dekoka’a onde está a mãe dos animais. A Hidrelétrica Teles Pires destruiu a casa sagrada, Karubixexe, agora nós pajés vamos ter de encontrar um lugar aqui mesmo para devovlvermos as urnas e pedir desculpas aos espíritos por ter invadido a terra. Nós pajés confirmamos que foram roubados vários materiais sagrados e que ainda tem mais materiais no local onde foi destruído Karubixexe. Nós pajés fizemos um compromisso com os espíritos de fazer visita no nosso local sagrado, Karubixexe, que foi destruído na construção da usina Teles Pires. Como Karubixexe, a cada dois meses, para sempre. Nós temos que oferecer as bebidas tradicionais. Na nossa segunda visita iremos escolher o local onde será depositado as urnas. As usinas tem que pagar todas as nossas visitas ao nosso local sagrado.
No segundo encontro das mulheres, na aldeia Santa Cruz, em maio de 2017, as mulheres Munduruku decidiram fazer a visita às urnas, aguardamos por tanto tempo sem mostrar para ninguém, mas agora, a violação veio à público, todas sabem o que a usina Teles Pires e São Manoel fizeram, destruindo nossas locais sagrados. Na nossa visita às urnas, os espíritos, que estão vivos, ficaram felizes com a nossa visita, eles estavam chorando e com fome, e nós oferecemos as bebidas para eles e sentimos a presença deles, todos se reuniram para nos receber. Muitos espíritos estavam na nossa visita, o local onde eles nos receberam não era grande o bastante, por isso, durante a cerimônia, a parede rachou. A usina tem que tirar uma foto da rachadura e mandar para o Movimento Iperegayu.
Nós Munduruku estamos voltando para nossas aldeias, com a proteção dos espíritos dos nossos ancestrais, fomos ouvidos pela FUNAI e as empresas assumiram o compromisso com a nossa pauta. Vamos continuar nosso movimento. A FUNAI e a empresa podem esperar que se não cumprirem o compromisso firmado, voltaremos.
Sawe!!
Fonte: https://autodemarcacaonotapajos.wordpress.com/2017/07/21/somos-feitos-do-sagrado/