Palmas, TO, 12 de abril de 2000.
500 anos de resistência Indígena, Negra e Popular
Nós indígenas do estado de Tocantins e Goiás estamos participando da Marcha Indígena 2000. Iremos percorrer o país até chegas na Bahia, onde em 1500 começou a invasão européia e juntamente com outros parentes participaremos da Conferência Indígena, em Coroa Vermelha (BA) entre os dias 18 e 22 de abril/2000.
Queremos com esta mobilização mostrar ao país inteiro e ao mundo a nossa resistência, a nossa disposição para lutar pelos nossos direitos e especialmente o nosso desejo de contribuir para a construção de um Brasil com mais igualdade social e democracia, onde todos os povos (indígenas, negros e brancos) possam construir a sua vida com dignidade e com relações respeitosas entre pessoas e povos, livre de preconceitos e discriminação.
Nós indígenas do Tocantins e Goiás denunciamos e reivindicamos:
Apinajé (município de Tocantinópolis-TO) – O projeto da construção da UHE – Serra Quebrada, no rio Tocantins, inundará mais de 5% do total da nossa área, colocando em risco a sobrevivência de nosso povo. O rio Tocantins para nós é fonte de vida por isso não vamos aceitar a construção dessa hidrelétrica e nem da Hidrovia Tocantins – Araguaia.
Karajá de Xambioá (município de Santa Fé do Araguaia – TO) – Não iremos permitir que a Hidrovia Tocantins – Araguaia destrua a vida do nosso povo. Somos filhos do rio Araguaia e necessitamos dele para que faça sentido a nossa vida física e espiritual;
Não queremos a hidrelétrica de Santa Izabel, pois esta obra será mais uma ameaça para nossa vida.
Krahô (município de Itacajá e Goiantins – TO) – Somos contrários a construção da Hidrovia Tocantins Araguaia, pois irá agravar ainda mais a invasão das nossas terras;
Xerente (município de Tocantínia – TO) – Não aceitamos a construção da Hidrovia Tocantins – Araguaia, porque este projeto põe em risco a nossa sobrevivência física e cultural, pois dependemos do rio Tocantins para vivermos.
Não aceitaremos nenhuma obra (hidrelétricas, hidrovia, pontes, asfaltamento ou pavimentação de estrada, etc,) que os governos municipais, estadual e federal querem construir dentro da nossa terra, pois além de causar sérios impactos ambientais, sociais e culturais estas obras são inconstitucionais.
Javaé, Karajá e Avá-Canoeiro (Ilha do Bananal – TO) – Exigimos a demarcação da área Boto Velho (norte da Ilha), pois não aguentamos mais as humilhações e ameaças dos fiscais do Ibama, dentro da nossa terra tradicional;
Exigimos a desintrusão do Parque Indígena do Araguaia (sul da Ilha), pois embora demarcado e homologado continua ocupado por fazendeiros;
Somos contrários a construção da Hidrovia Tocantins – Araguaia. O rio Araguaia para nós é a vida, pois ali temos a origem dos nossos mitos de Aruanã e dali, do rio, tiramos nosso alimento.
Tapuya (município de Rubiataba e Nova América – GO) – Após longo período de luta e conflitos pela desintrusão da nossa terra, estamos agora sendo ameaçados por fazendeiros os quais não se conformam com a decisão da justiça de desocupação da terra indígena;
Somos contra a construção da hidrovia Tocantins – Araguaia porque sabemos que causará sérior impactos aos nossos parentes.
Enfim, denunciamos a implementação dos grande sprojetos dentro e em torno das áreas indígenas, a omissão dos governos com relação a nossa saúde, educação, demarcação, homologação e desintrusão das nossas terras.
Somos contrários as comemorações oficiais do governo brasileiro, pois não houve descobrimento, mas sim massacres, imposição cultural e extermínio de diversos povos.
QUEREMOS CONSTRUIR “OUTROS 500”
Fonte: Dissertação de Lucas da Mota Faria, intitulada Marchas e manifestos contra a colonialidade da história: Movimentos indígenas diante das comemorações oficiais dos 500 anos (1998-2000). Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/35098#:~:text=Este%20Movimento%20mobilizou%2C%20entre%20os,as%20perspectivas%20hist%C3%B3ricas%20e%20os