Santa Catarina, 22 de outubro de 2015
Nós, os povos Xokleng Laklãnõ, Kaingang e Guarani, as três etnias que ainda resistem em Santa Catarina, vimos por meio desta nota repudiar veementemente as declarações do deputado Valdir Colatto, do PMDB de Santa Catarina, que tem expressado em vários espaços serem os indígenas desse estado favoráveis à PEC 215. Isso é uma mentira! Esse senhor não representa a nenhum de nós.
Ora, uma rápida olhada na página pessoal do deputado Valdir Colatto (http://valdircolatto.com.br) e já se pode perceber a quem ele representa: o agronegócio, muito bem retratado na imensidão verde que enche a tela. Colatto, ao longo de sua vida parlamentar sempre representou esses interesses, tendo, inclusive, sido fundamental na articulação para a aprovação do Código Florestal Brasileiro, outra pauta bastante cara aos latifundiários.
Em Santa Catarina, o povo Xokleng Laklãnõ vive em estado de abandono, tendo de realizar lutas gigantescas para garantir seu território, o qual já foi em grande parte subtraído por conta da Barragem Norte. Cotidianamente precisa batalhar pela sobrevivência como se não fossem os legítimos donos de suas terras.
O povo Kaigang, que vive na região oeste, ainda mais distante do centro do poder, vivencia os mesmos problemas, ainda lutando pela demarcação de seu território, por políticas públicas, pela manutenção da cultura. Esquecidos pelos governos, eles resistem, impedindo que floresça a lógica de negação de direitos imposta pelos fazendeiros locais.
O povo Guarani, igualmente, padece por conta da demora de demarcação de seu território enquanto enfrenta a ira dos grandes proprietários, sofre com o preconceito e a discriminação, enfrenta a violência cotidiana, com ameaças e agressões e vivencia uma sistemática campanha de desmoralização por parte da mídia catarinense.
Essa dramática situação a que estão submetidos os povos originários de Santa Catarina não permite que qualquer um de seus membros seja favorável a essa proposta de mudança na Constituição. Deixar a decisão sobre as demarcações na mão dos parlamentares, que são visivelmente representantes do agronegócio, do latifúndio, dos poderosos, seria a mesma coisa que assinar a sentença de morte dos povos indígenas no Brasil.
Assim, como todos os demais parentes indígenas de todo o Brasil, nós, de Santa Catarina, nos posicionamos radicalmente contra a PEC 215 e repudiamos a palavra do deputado Valdir Colatto. Esse senhor não nos representa e não o autorizamos a falar em nosso nome.
Que vivam as comunidades Indígenas! Respeito, Demarcação e Justiça!