Ao Ilmo
Sr. Dr. Carlos Alberto Ricardo
O movimento indígena da Amazônia conquistou o público internacional, graças por expressões representativas e diretrizes políticas próprias em Defesa da Auto-determinação de todos os Povos Indígenas.
Conhecemos a História de nosso movimento, a luta política dos Estados que visam eliminar as nossas culturas e territórios; da ação dos evangelizadores que continuam desconhecendo as religiões indígenas; dos políticos que nos enganam e tomam poder em nossos territórios e que a nossa situação fica cada vez péssima.
Precisamos fortalecer as nossas organizações, fazer uma reestruturação total; termos a melhor coordenação e mais democrática; aguentar crítcas nas assembléias indígenas ou fora pelos próprios companheiros através de imprensa ou instituições indigenistas e exigir dos críticos as solucoes imediatas ou pelo menos, o programa de trabalho.
É a hora de darmos os nossos braços; monstrar o novo programa de trabalho; movimento descentralizado e fortalecido nas bases; corrigir as falhas de comunicação entre todas as organizações indígenas da Amazônia.
Muitos de nossos irmãos não sabem o que são a FOIRN, COIAB, UNI, COICA, CIDOB, CONFENIAE e ONIC ou se conhecem, não atuam em defesa do movimento. Temos que trabalhar mais, evitar seguir o programa de outros.
Sempre tivemos alhiados de ONGs, e fizemos reuniões na ONU, no Senado e no Congresso de cada país, com empresários, ministros militares, com os missionários e com banqueiros do FMI. Conhecemos o BEM e o MAL.
Vivemos em cima de problemas, e por isso, quero monstrar a V.Sa a maior mina de NIÓBIO do Brasil, a Serra de Seis Lagos que fica dentro de nosso Teritório do Balaio, na BR – 307, KM 100. Em nome da dívida Externa o Governo Brasileiro está discutindo com Japão, Alemanha e Estados Unidos e que mina dá explorar um montante de US $3.500.000.000. É interessante, nao é?
O Rio Negro é o ponto adequado para debater sobre a Mineração, a construção de estradas, a invasão de garimpeiros, as instalações de quartéis e aeroportos, enfim a devastação da Amazônia. Vamos ver de perto a resistência indígena.
Em nome dos Povos indígenas do Balaio, convido V. Sa. para questionar a realidade nossa junto as opiniões nacional e internacional, para outorgar como nosso representante nas instancias impossíveis, buscar soluções conjugadas e práticas para demarcação de nosso território. Queremos mudar o nome de PARQUE NACIONAL de Pico da Neblina que não assegura a nossa sobrevivência e não dá o direito prático de território indígena.
É o desejo da Comunidade, participar ativamente no movimento indigena; assumir o caminho próprio de vida e estimular as novas gerações para continuar na luta. Queremos uma voz própria, sem tutela ou de interesses excusos às questões indígenas.
A reunião será na comunidade indígena, fora de qualquer barulho de progresso, nos dias 15, 16, 17 e 18 de julho do corrente ano. Para evitar as críticas de sempre, solicito de V. Sa. adiar os programas previstos para estes dias. A reunião será de cúpula de líderes indígenas, sem imprensa e, por falta de infraestrutura não podemos chamar o público em geral, porque estaremos numa preparatória para um debate que se realizará em São Gabriel da Cachoeira nos dias 21, 22, 23 e 24 do mesmo mês, com a presenca de mais 60 líderes e povo geral do Rio Negro. Será uma Assembléia da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro – FOIRN.
A metodologia e ética da reunião será da seguinte maneira: Mesas A, B e C. A primeira será dos líderes das bases; a segunda, de coordenadores de COIAB, UNI e COICA.
A primeira exposição será da mesa A, e que cada líder vai 30 min e apresentar os projetos para mesa B, e a mesa C será testemunha.
A segunda exposição será da mesa B para A e C, demonstrar a sua missão cumprida ou não e cada um vai falar durante 30 min.
Na terceira, as mesas A e B vão encaminhar os Projetos para C, e logo se fará os debates, buscar a estratégia comum de defesa da Amazônia, fazer comentários sobre os acordos interncionais, de publicações, e etc.
Como ponto último do Balaio, será assinaturas de Convênio entre todas as organizações presentes. Será o ato Oficial da Associação Liberal Indígena do Balaio – ALIB e a Inauguração da Fundação Indígena Multi-Científica – FIM-CIENTIFICA.
Por isso, a presenca de representantes de instituições indigenistas Não-Governamentais será importante. Muitos de nossos líderes não conhecem o papel que tais instituições desempenham em favor dos Povos Indígenas. Queremos somar forças para defender os direitos territoriais, coordenar as ações de trabalho de divulgação nos níveis internacional e internacional, corrigir os erros de comunicação ou seja, o que os antropólogos e sociólogos descrevem sobre os índios devem ser de instrumentos políticos, e não de academicismo e teórico.
Todos os assuntos que vamos discutir nessas reuniões á para ter documentos prontos para Conferencia Internacional sobre o Meio Ambiente celebrada na cidade do Rio de Janeiro, nos dias 1 a 12 de junho de 1.992.
Nos preocupa muito quando as agentes dos Governos fazem muitas reuniões sobre o meio ambiente, discutem sobre os Parques, de Reflorestamento e querem dividir os movimentos indígenas.
Creio, portanto que, sua presenca será para avaliar e dar o prosseguimento e acompanhar de perto os Problemas da Amazônia.
Venha ajudar os Povos Indígenas.
Atenciosamente,
ÁLVARO FERNANDES SAMPAIO – TUKANO
Líder da Comunidade.
Original: 1991.05.23 De Álvaro Tukano para Carlos Alberto Ricardo