23 de setembro de 2011.
A luta histórica do povo HUNI KUÎ se reflete nos vinte e três anos de fundação da nossa Associação dos Seringueiros Kaxinawa do Rio Jordão _ ASKARJ . Durante a conquista de nossas terras entre 1985 e 1988, mesmo sabendo que já eram nossas do “tempo do cativeiro”, criamos a nossa associação. Em busca de uma autonomia de sobrevivência, viemos realizando um forte trabalho na região da floresta e faixa de fronteira entre o Brasil e Peru, localizado nos municípios de Jordão, Santa Rosa e Purus e Marechal Thaumaturgo, lá onde nasce a ÁGUA do povo nativo.Ao longo destes vinte e três anos , a ASKARJ tem realizado várias atividades em benefício da comunidade em projetos de organização básica. No início, as atividades principais da ASKARJ consistiam no gerenciamento de nossos produtos como: borracha, agricultura, criação e artes, mas ainda em dependência do patrão. A luta inicial era pela terra e territórios que ocupávamos bem antes da chegada dos “cairus”,”nawás”, dos povos não indígenas.Naquele tempo sonhávamos em ter a nossa própria estrada de seringa, nossa própria casa, roçado, caça e pesca. Ou seja, autonomia para trabalhar por conta própria junto às nossas famílias. Cada um de nós queria ser dono do seu destino, do seu nariz e, para que este sonho se realizasse, primeiramente organizamos uma base, com forte influência de Sueiro Sales Kaxinawá, João Sales da Rosa, Agostinho Sabino e Francisco Sabino.Buscamos apoio externo de entidades não governamentais e governamentais como o do Ministério Público Federal e Estadual, da Embaixada da Suécia, Oxfam América, WWF, e BNDES, para a criação de cooperativas auto-gerenciadas. Também procuramos a FUNAI – Fundação Nacional do Índio – Comissão Pró-índio de São Paulo e do Acre, para a demarcação de nossas terras e formação técnica em educação, saúde e manejo florestal.Mais a frente tivemos apoio para a realização de projetos próprios como: manejo consorciado de lagos nativos, aproveitamento de madeiras, criação de centros de estudos e pesquisa próprios, além da produção de couro vegetal junto com Projetos Demonstrativos dos Povos Indígenas (PDI/MMA), Programa Piloto para a proteção das Florestas Tropicais e Banco da Amazônia. Um prêmio internacional de Direitos Humanos oferecido pela REEBOK a mim, Siã Huni Kuî, permitiu que a ASKARJ comprasse o Seringal Independência, ampliando nossas terras no município de Jordão.Nestes anos de reconstrução conseguimos muitas vitórias: os nossos professores conseguiram finalizar o segundo grau e alguns já chegaram ao terceiro grau. Hoje temos seiscentos estudantes no primeiro ciclo e cem alunos no segundo ciclo. E pensar que nós começamos no MOBRAL… Treinamos agentes agroflorestais para cuidar do reflorestamento de nossa comunidade. Eles trabalham no aproveitamento do manejo florestal de forma sustentável, ou seja, sem a destruição da floresta nativa. Estamos vivendo da terra, quase da mesma forma com que vivíamos antes da chegada dos caucheiros e seringalistas. Com vida, água, vento, caça, pesca e agricultura regenerativa; aproveitando tudo o que a vida verdadeira nos oferece.Todo este modo de vida pacífico e sustentável se encontra AMEAÇADO com as invasões de nossas fronteiras!!ESTAMOS PEDINDO SOCORRO!!!No presente momento nós do povo HUNI KUÎ do Jordão, Acre, Brasil de faixa de fronteira, onde habitamos há 3 mil anos,nessa nossa terra querida, nos encontramos em um momento difícil e desafiante.Hoje somos três mil habitantes que vivem ao longo do Rio Jordão com a área regularizada – 210 mil hectares entre alto e baixo Jordão e Seringal Independência.Como a nossa área é cercada de faixa de fronteira, os peruanos estão invadindo e devastando o nosso território e os índios brabos que vivem lá estão entrando em nossa área provavelmente fugindo dos madeireiros. Como nós não queremos mais repetir a história do passado de derramar o sangue de família de ninguém, estamos pedindo ajuda.Nós Huni Kuî queremos viver em paz e em segurança com as nossas famílias, buscamos uma solução com o Governo Federal para este grave problema de segurança nacional. Estamos dispostos a colaborar para que todos os irmãos da floresta vivam em paz, mas esses índios isolados, muito selvagens e ainda não estão pacificados, com a ameaça dos madeireiros e incêndios que estão acontecendo, invadem as terras de nossas reservas de maneira hostil. Propomos abrir mão de uma aldeia de nossa terra no Alto Jordão, afim de que nossos irmãos também encontrem paz e segurança. Mas nesta pacificação não podemos estar sós nesta luta.Queremos que o Governo Brasileiro tome a total responsabilidade, sobre a faixa de fronteira na fiscalização e preservação das nossas riquezas naturais que estão sendo saqueadas. Precisamos de prevenção para que a nossa floresta não vire deserto. Chamamos a Força Nacional, a Força do Estado e da Polícia Federal para nos ajudar a cuidar disso, e nós da comunidade, queremos controlar o fundo que existe para atender esta necessidade. PEDIMOS MÁXIMA URGÊNCIA , porque está acontecendo AGORA!!!Gastaram fundos e fundos para atender ali e nunca foi prestada a conta com os índios brabos. A ASKARJ dentro da sua comunidade quer trabalhar diretamente com os apoiadores.O nosso S.O.S HUNI KUÏ é para conter a entrada dos peruanos devastadores e dos índios brabos invadindo nossa área. Buscamos soluções pedindo apoio à Polícia Federal, FUNAI, Governo do Estado do Acre, a Presidente da República, para dar total apoio a nós Huni Kuî, do Jordão.Solicitamos apoio também das agências ambientais para a doação de recursos na construção de nova vida com povo brabo da floresta. Queremos a vida melhorando para todos, e não a desgraça. Pedimos o socorro a todas as entidades que apóiam as causas indígenas à doação em dinheiro para montar estrutura completa para atender os dois lados: os índios brabos e os mansos. O povo Huni Kuî todo vai depender da boa vontade e ajuda para continuar vivendo em paz.O meu apelo é para todos os amigos de coração, todos os ecologistas, todos os seres humanos, na área nacional e internacional.ESTAMOS TODOS NA MESMA MÃE TERRA!Na parte de aquecimento climático, a floresta ajuda ao mundo a se manter equilibrado, ou pelo menos, menos desequilibrado. A comunidade mundial pode ajudar muito, ao invés de guerrear com outros países, pode decidir ajudar a gente.Queremos melhorar a qualidade da educação, saúde, meio ambiente, desenvolvimento econômico, preservação da vida humana, animal, vegetal e dar continuidade à nossa tradição dos nossos antepassados, além dos nossos recursos naturais com economia verde para gente garantir a nossa vida humana na Terra.Apelamos aos nossos parceiros para apoiar a gente para resolver isto com sabedoria. Queremos ver quem é responsável por isso, quais recursos estão disponíveis, para gente trabalhar na área de comunicação, os materiais necessários como alimentação, custo das pessoas que vão trabalhar numa área de riscos. Os equipamentos para trabalhar, os custos transporte aéreo e fluvial, informações via satélite, E o suporte também necessário com respeito do Governo do Estado.Queremos suporte total para preservarmos os nossos verdadeiros nativos da floresta, dando condição suficiente, para organizarmos o nosso povo.Não estou contando coisas que vão acontecer, está acontecendo AGORA, neste momento.Por gentileza todos humanos, queremos a força de vocês.
Chefe Siã HuniKui
Fonte: https://www.cedefes.org.br/?p=indigenas_detalhe&id_afro=6962