Exmo. Sr. Ministro da Reforma Agrária, Dr. Nelson Ribeiro
Eu sou o índio Francisco Gonçalves, Chefe Apurinã do Posto Indígena Camicuã localizado no município de Boca do Acre – Am, representando a nossa comunidade de 300 pessoas.
Viemos aqui, negociar com o senhor uma definição sobre o problema de demarcação de nossa área.
Desde 1976, que a FUNAI vem fazendo os estudos de delimitação de nossa área (35.000 hectares) e até hoje nossa área não foi sequer aprovada pelo Grupo Interministerial que estuda as questões de terra em nosso país.
Dentro de nossa área, quase que não existem invasores, as poucas indenizações a serem feitas, segundo levantamento fundiário feito pela FUNAI/INCRA em 1984, não ultrapassa a Cr$ 5.000.000 (cinco milhões de cruzeiros). Por conta dessa indefinição já aconteceram conflitos sérios em nossa comunidade, envolvendo índios e brancos e entre nós próprios.
Somos produtores de borracha e alimentos os quais comercializamos na cidade de Boca do Acre, próxima da nossa área.
Não queremos continuar em guerra com os posseiros, mesmo porque a quantia estimada para o pagamento das poucas indenizações alí existentes é mínima. Como o número de posseiros em nossas terras é pequeno, seria ideal que o INCRA os reassentasse em seus projetos com esta finalidade.
Solicitamos a interferência de V. Sa., junto ao Grupão, para que analise e defina o mais rapidamente possivel a questão de nossas terras, pois a cada dia que passa novos conflitos podem surgir e a nossa tranquilidade de produtores e trabalhadores fica ameaçada com a incerteza e falta de definição sobre nosso território.
Certos de que V. Sa. atenderá nossos apelos, despedimo-nos.
Francisco Goncalves Apurinã
Chefe Apurinã do Posto Indígena do Camicuã/Boca do Ac
Original: 1985.05.08 De Francisco Gonçalves Apurinã para o Ministro da Reforma Agrária