CARTA ABERTA AOS AMIGOS APOIADORES DA NOSSA LUTA
Nós, Tremembé das Comunidades São José e Buriti, distrito de Marinheiros/Baleia, município de Itapipoca, no Ceará, somos originários de Almofala, em Itarema, e estamos comunicando o sofrimento que estamos vivendo.
Mais pratasmente nossas terras foram invadidas e nós vivemos como escravos, pagando renda exorbitante, humilhados e mal tratados. Foram vários proprietários: Major Carneiro, Euclides, Zulmira e Zé Maria, Dr. Prata e desse para a empresa Nova Atlântida. A Empresa tem cinco escrituras registradas em cartório de cidades do Ceará. – terra indígena, invadida.
Desde 2002 enfrentamos uma luta pesada contra essa empresa que quer construir uma cidade turística internacional em nossas terras. Podemos dizer que já foi dado início às construções pela empresa, mesmo contra a liminar em Ação Civil Pública a nosso favor, do Ministério Público Federal. Eles estão se aproveitando da situação da nossa terra ainda não estar demarcada pela FUNAI. Pretendem expulsar nossas famílias das nossas terras de origem para outro lugar.
As nossas comunidades são cheias de belezas naturais: matas, lagoas, rio. manguezal, água limpa, ar puro, e não aceitamos esse mega projeto, não queremos ver nossas águas poluídas, nossa mata devastada, nossos animais mortos. É da caça, da pesca e da agricultura que vivemos.
Como estamos lutando contra essa invasão na Justiça, essa empresa está fazendo tudo para nos amedrontar, pois foram capazes de colocar parte dos nossos parentes contra nós, mesmo em troca de dinheiro. Contam com o apoio da prefeitura de Itapipoca e do governo estadual. Mas não desistimos de lutar, enfrentamos perseguições frente a frente com nós, lideranças Tremembé.
Desde o início sofremos ameaças e agressões de policiais militares da 3ª. Cia. de Itapipoca, da Comarca de Trairi, e de Fortaleza, contratados pela empresa. Pessoas agredidas fisicamente: crianças, idosos e mães de família, ameaçadas (os) de atropelamento pelos bugres da empresa em nossa estrada, fotografando e apontando as casas das lideranças. Denunciamos sem solução.
Já entupiram a cacimba de um idoso, fizeram ameaças de morte a um grupo de oito índios, nossos parentes, quando desentupiram a cacimba. Nós estamos impedidos de ir ao rio, ao mar, às nossas camboas, onde pescamos para sobreviver, porque a empresa colocou cancelas impedindo o acesso. Uma ameaça recente: um policial conhecido por Marinho, militar reformado, além de viver amedrontando as famílias que resistem à empresa, bateu no jovem Djacir Santos de Oliveira, conhecido por ‘NEGO’ porque esse rapaz e mais três tentaram tirar uma lombada na nossa estrada, com tocos de pau e arame, que está prejudicando as crianças que vão para a escola. O Nego reclamou ao vigia da empresa, foi quando o Marinho chegou, botou o carro por cima e foi logo agredindo o rapaz. Ainda puxou a pistola mas caiu no chão. Deu uma coronhada na cabeça do Nego e quebrou seu ombro O rapaz está bastante machucado e consta na comunidade que está ameaçado de morte pelo mesmo Marinho que anda armado, com dois capangas.
Agora a empresa está perseguindo nossos apoiadores: o Professor Dr. Jeová Meireles, da UFC, por ter dado parecer técnico da situação da nossa terra, juntamente com a Profa. Marcélia Marques, antropóloga, da UECE, que identificou cinco sítios arqueológicos na nossa terra.
Diante disso, e dos fatos novos revelados em jornais nacionais, a decisão do juiz federal em Sobral, que determinou o embargo da construção de uma pequenina casa de farinha em nossa terra, pedimos o apoio de vocês, nesta hora tão difícil. Antes que haja uma desgraça com o nosso povo.
Nossos agradecimentos, nossas saudações.
SOCIEDADE TREMEMBÉ SÃO JOSÉ E BURITI
Fonte: https://kelsenbravos.blogspot.com/2007/12/